O MEDO DA FALTA DE INFORMAÇÃO E DO INACESSÍVEL



Nossas dúvidas também nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar por simples medo de perder. (William Shakespeare)

A capacidade de aprender é uma dádiva; A habilidade de aprender um talento;  A disposição [o desejo]  de aprender é uma escolha individual. [Brian Herbert]

Em uma experiência, solicitou-se a mais de cem médicos que prescrevessem um tratamento para um homem de 67 anos com dores crônicas no quadril direito. Eles tiveram duas opções: prescrever um remédio especificado ou encaminhar o paciente ao ortopedista e não iniciar nenhuma medicação. Cerca de metade votou contra qualquer medicação. Quando as alternativas foram aumentadas de 2 para 3 , com o acréscimo de um segundo medicamento, além do encaminhamento ao ortopedista, 3/4 dos médicos votaram contra a medicação e pelo “encaminhamento ao ortopedista”. Humanos preferem assumir riscos com base em probabilidades supostamente conhecidas. Em outras palavras, a informação importa. Tendem acreditar que quanto mais informações tiverem, melhor conseguirão lidar com os riscos que pretendem enfrentar. A probabilidade atribuída a um evento depende da clareza de sua descrição e entendimento, todavia, é preciso saber separar o essencial do supérfluo, do que é meramente alegoria. Há circunstâncias em que informações adicionais atrapalham e distorcem as decisões e manipulam as aferições dos riscos dispostos a correr. É preciso desejar obter o conhecimento correto para decidir e agir com luz própria; poucas pessoas acabam no asilo de indigentes ou no hospício como resultado de sua própria lúcida tomada de decisões. A existência de repetidos padrões de irracionalidade, inconsistência e incompetência nas formas como os seres humanos chegam às decisões e escolhas diante da incerteza de razão a Macbeth em afirmar que a vida é uma história contada por um idiota. Somente o comportamento racional, pautado no adequado conhecimento, consegue sobreviver em uma ambiente competitivo e do medo de que qualquer conduta que se afaste da racionalidade venha a ser caótico e incontrolável. A vida é cheia de eventos que não se ajustam perfeitamente a pressupostos teóricos rígidos.  Ao adquirir um contrato de seguro, aceita-se a possibilidade de uma perda, o que equivale ao reconhecimento explícito (racional) da incerteza em torno do evento a que se refere.

O único homem que nunca errou é aquele que nunca fez nada. 

(Theodore Roosevelt)

Sócrates disse: “a semelhança com a verdade não é verdade”; Jacob Bernoulli disse: “a hipótese de certeza é inferior à certeza.” Muitas vezes somos obrigados a enfrentar os riscos, tomar decisões, em meio às incertezas com que nos deparamos. Viver sem nenhuma ousadia equivale a quase não viver. O número de riscos contra os quais podemos nos segurar é bem inferior ao número de riscos que corremos no decorrer da vida. A posse de dinheiro acalma nossa inquietação face às incertezas/sinistros futuros. A medida de nossa inquietação é o parâmetro da recompensa que exigimos para nos desfazermos do dinheiro ou de correr o risco de perdê-lo. Nem sempre as alternativas para escolha são claras e a probabilidade entre a evidência e o evento considerado é mensurável. Na falta de informações, temos que recorrer ao raciocínio intuitivo para tentar acertar as chances. Em muitas situações os conceitos estatísticos costumam ser inúteis. Há também o risco de superestimar a quantidade de informação disponível, a ausência de filtros faz com que o indivíduo caia na cilada criada pelo próprio viés mental de rejeitar a simplicidade

As decisões e escolhas diante da incerteza revelam padrões de irracionalidade, inconsistências e incompetências muito frequentes, que, às vezes, assemelham-se a histórias contadas por idiotas. A incerteza é assustadora. Por mais que tentemos comportar-nos racionalmente as emoções muitas vezes nos levam a procurar proteção contra surpresas desagradáveis. Para ser sempre 100% racional deveria ser conhecido e compreendido tudo completamente e de uma só vez. Para compensar esta impossibilidade, os humanos recorrem a artifícios que violam as prescrições racionais frente à dúvida. É preciso saber conviver com cenários voláteis ou incertos ou não plenamente conhecidos, ou terminará maldizendo a própria impaciência. Em parte por temerem arrepender-se da decisão e em parte devido à falta de conhecimento, os investidores subvalorizam os preços baixos das ações de empresas em dificuldades de curto prazo não considerando que a saúde financeira será restaurada no longo prazo. Pelo mesmo critério, os preços das ações de empresas com informações recentes de melhorias acentuadas são supervalorizadas por aqueles que não reconhecem que as coisas não podem continuar melhorando indefinidamente. 

Nem sempre o todo equivale à soma das partes; pequenas mudanças podem produzir grandes efeitos e os pressupostos de um “continuum” uniforme e homogêneo podem não ser satisfeitos. Só um teórico ingênuo pode acreditar que todos os problemas podem ser resolvidos pela aplicação racional da matemática com dados bem ordenados. Se tudo fosse assim, a arte da filosofia talvez até não existisse. Por analogia, o problema não está só limitado às decisões, mas muito nas consequências destas. Somos prisioneiros do futuro e a incerteza sempre está presente. Uma decisão pode levar a resultados sequer contemplados em um conjunto de probabilidades. Muitos desejam tomar decisões sempre sob condições de perfeita certeza ou sob leis estabelecidas da probabilidade onde o futuro é sentido como muito desconhecido. Ledo engano! A dificuldade de previsão estende-se muito além da impossibilidade de aplicar proposições matemáticas.  Nada consegue eliminar por completo a indeterminação do futuro. Em geral, momentos críticos só são identificados depois do fato ocorrido. É preciso aprender a agir em meio a nuvens de imprecisão. É preciso considerar que a natureza humana é insensata, motivadas também por “paixões profundas e cegas” e a “surtos insanos e irracionais de maldade”. Dificilmente poderemos confiar plenamente em um método probabilístico específico sem nenhuma ajuda da intuição. Explicarei o problema do medo da falta de informação e do oculto no Mercado Acionário por meio de analogias com fatos do cotidiano na vida de muitas pessoas, e que provavelmente a maioria não está ciente.  É fácil aceitar a premissa de que os vendedores de carros usados sabem mais sobre a confiabilidade dos seus veículos que os possíveis compradores, cujas compras estão sempre associadas à sensação de uma aventura arriscada. O vendedor informa que o carro usado está em ótimas condições, mas para o comprador, se isso fosse verdade, por que iria se livrar dele? Para o comprador, o sentimento é de que a verdadeira condição do carro é incerta. Este fato constitui uma razão psicológica importante para as pessoas preferirem comprar carros novos em vez de usados. Em suma: a suspeita sobre as motivações do vendedor é a motivação. Todo negociante que lida com bens de segunda mão convive com esse tipo de dilema há séculos.  Os economistas agora se referem a isso como o problema da “seleção adversa”, mas adjetivar de “informações ocultas” é igualmente preciso. A possibilidade de presença de “abacaxis” no mercado de carros usados afasta os compradores e vendedores de veículos de boa qualidade a preços menores, muito embora existam clientes dispostos a pagar até ágio pela confiabilidade. O preconceito de que a maioria dos carros usados negociados é formado de 'abacaxis' implica na redução da negociação dos bons carros.  É muito fácil ver como isso acontece nesse tipo de negócio. Todos sabem que alguns, talvez muitos, vendedores tentam se desfazer de carros problemáticos. Por conseguinte, muitos compradores de veículos usados não se predispõem a pagar os preços que os vendedores de bons carros cobram. Como não há maneira de muitos vendedores de automóveis confiáveis convencerem os possíveis compradores de que seus carros não são defeituosos, também, muitos desses vendedores acabam tirando os seus veículos do mercado. Isto contribui para a prevalência de veículos defeituosos que alimenta o preconceito. Um dos principais pressupostos do modelo de livre mercado é que todos dispõem das informações necessárias para tomar as decisões corretas, e essa não é a realidade. Muitas decisões de consequências irreversíveis têm de ser tomadas com base em informações incompletas. Uma vez que agimos , também podemos perder a opção de esperar por novas informações. Para aumentar a incerteza, a inércia também tem seu valor. O futuro às vezes revela que quem hesitou ficou a meio caminho do sucesso.  O problema das informações parciais ou ocultas está presente em quase tudo na vida, além do mercado de carros usados. Quando o conhecimento completo do futuro ou mesmo do passado é uma impossibilidade, gera a preocupação sobre quão representativas são as informações que se dispõe. Como estas devem ser avaliadas e incorporadas  às crenças desenvolvidas com base até o conhecimento presente. A teoria das probabilidades pode auxiliar, mas, como dizem os mais céticos,  o diabo está nos detalhes, apenas o temerário faz opções baseadas nas probabilidades de um resultado sem considerar suas consequências. Nunca dispomos de todas as informações de que gostaríamos. A natureza não estabelece padrões para tudo. O mundo é bem mais organizado nas salas de aula das Universidades do que fora delas.  Raras são as oportunidades na vida em que podemos inferir um resultado antes que um evento ocorra. Na maioria dos casos o futuro necessita ser planejado após um fato ruim ter acontecido. Na vida real poucos são os casos em que as informações são suficientemente completas para que se possa prever o resultado. A regra é que os dados sejam apenas um fragmento da realidade. A qualidade fragmentária dos dados é crucial para uma generalização. A realidade é uma serie de eventos interligados e com efeitos interdependentes que não são representados em números exatos, e sim como “um pouco”, “muito”, “nem tanto”. Em várias ocasiões, os números não fornecem nenhuma ajuda e somos obrigados a enfrentar o futuro guiados apenas por palpites. O segredo está em desenvolver uma sensibilidade de quando são relevantes e de quando não o são. Sempre haverá perguntas por responder associadas às decisões; sempre haverá um risco “mensurável” e um tipo de incerteza que nos obriga a supor o que o futuro pode reservar de bom e de mal. A vida não é como um jogo de dados onde o resultado de cada arremesso é independente de todos os outros anteriores e posteriores. A relevância destes pressupostos é crucial para afastarmos o medo irracional e desarrazoado nas decisões de investimento.  No geral, a vida não é norteada por razões pré-definidas. Como calcular o erro provável entre dados estimados por amostragem e os dados reais. Todos têm que tomar decisões com base em poucos dados. Um gole, ou mesmo o aroma, de um vinho para considerar se a garrafa inteira é bebível. Algumas gotas de sangue para revelar o padrão do DNA que condenarão ou absolverão uma acusado. As pesquisas de opinião que entrevistam 2 mil pessoas para apurar o estado de espírito de um país inteiro. Os índices das Bolsas de Valores que consiste em ações de poucas empresas usados para medir mudanças em trilhões no patrimônio de milhões de famílias e instituições financeiras. Muitas grandes decisões seria inviável sem a amostragem. Não é recomendável beber uma garrafa de vinho inteira antes de decidir se vale a pena toma-la. Não é possível extrair todo o sangue de alguém para ajudar no diagnóstico ou tratamento. A amostragem é essencial para se enfrentar riscos. Constantemente, usamos amostras do presente e do passado para advinhar o futuro. “Na média” é uma expressão familiar. Mas, resta a preocupação de saber quão confiável é a média a que nos referimos. Quão representativa é a amostra em que baseamos nossos julgamentos.  Um homem com as pernas no forno e a cabeça no freezer na média estaria sentindo-se muito bem.  Vejamos outros exemplos da vida real:

1.No mercado de trabalho, os empregadores sabem muito menos sobre as qualificações e o zelo dos candidatos a emprego que os próprios candidatos. Pessoas desempregadas em geral descobrem, por sua conta, que o mercado de trabalho é uma dessas áreas. Há um antigo preconceito  segundo o qual é muito mais fácil conseguir emprego quando já estamos empregados do que desempregados. O motivo disso é a informação oculta: possíveis empregadores não nos conhecem pessoalmente, e o fato de estarmos desempregados indica que podemos ser abacaxis, ainda que tenhamos saído do último emprego por qualquer razão que não seja de nossa responsabilidade. O desemprego carrega um estigma. Quanto mais tempo desempregado, maior o estigma se torna. Pesquisas mostram que a possibilidade de conseguir novo emprego diminui de forma constante com a persistência na condição de desempregado. Com o tempo, muita gente desempregada fica tão deprimida que para de procurar ocupação ou deixa de todo a força de trabalho. O estigma do abacaxi também ronda o homem e a mulher solteira em idade em que a maioria de seus pares estão casados, muitos casamentos são concretizados a fim de afastar esse estigma do que por uma razão mais louvável.   Em 1974, Michael Spence, economista, publicou um livro chamado “Market Signaling” (Sinalização ao Mercado), no qual afirma que altos diplomas acadêmicos são eficazes para afastar o estigma do desemprego. Como? Empregadores se interessam pela produtividade de alguém no trabalho, mas a produtividade no trabalho, em geral, está relacionada tanto real quanto preconceituosamente à produtividade em outras áreas da vida, tal como à instrução. O aumento da competição no mercado de trabalho impulsionou muitos a fazerem mestrado e doutorado porque além do conhecimento em si servem para fazer prova de uma produtividade (capacidade) maior em relação aos que não se esforçaram para fazê-lo. Em consonância com essa teoria, pesquisas indicam que pessoas com alto grau de instrução tendem a ter índices de desemprego mais baixos e por períodos mais curtos que pessoas com menos instrução.

2.O mesmo se dá entre locador e locatário de um imóvel, quanto aos interesses de honrarem o contrato.

3.Os seguros são um negócio totalmente dependentes do processo de amostragem e da matemática estatística inferida dela. Na saúde, as seguradoras sabem muito menos sobre as condições de saúde dos segurados que os próprios segurados. As pessoas idosas que mais precisam de cobertura médica são as que menos interessam as empresas de seguro saúde. A grande razão para isso é que os idosos são vistos como grandes abacaxis ! Como a boa saúde costuma ser requisito para um emprego, os planos de grupo selecionam os mais saudáveis, obrigando autônomos, desempregados e trabalhadores cujos patrões não oferecem tal benefício a buscarem cobertura por conta própria, como os enfermos e os indigentes. Inadvertidamente, como um “respingo” negativo do livre mercado, o interesse nos planos de saúde de grupo ajudou a transformar o mercado de seguros individuais em um mercado de abacaxis.

4.Pelas leis do mercado do passe livre no mundo dos esportes, após determinado tempo de contrato, o jogador tem o direito de exigir outro contrato ou de adquirir o passe livre para assinar com outro clube. Neste exemplo, as informações ocultas são as verdadeiras condições físicas do atleta. Muitos atletas adquirem lesões persistentes que os atormentam nas últimas fases da carreira. A administração da equipe original do atleta sabe mais da saúde dele do que um possível comprador de seu passe. O compradores têm que decidir na presença desse dilema e geralmente tentam atenuar a dúvida examinando a ficha médica do atleta e submetendo-o a rigorosos testes de aptidão física, com supervisão de seus próprios médicos. Mas as provas demonstram que estes testes estão longe de ser infalíveis.

5.A falha na informação e a livre competição no livre mercado entre profissionais liberais produz o interesse destes em investir na aparência de sucesso a fim de relacionar esta à competência profissional que possibilitou os recursos financeiros para adquirirem bens caros. Em suma, usam o “ter” visível como ferramenta de marketing para o “ser” menos conhecido. Enquanto muitos perdem sacrificando a sobra de capital em bens perecíveis de luxo, as empresas que os produzem ganham e geram trabalho e renda com as suas atividades. O sacrifício individual produz benefício coletivo. 

6.No sistema financeiro, os emprestadores sabem muito menos sobre a capacidade de os tomadores pagarem seus empréstimos que os próprios tomadores. Contudo, a informação oculta é a principal razão da existência dos Bancos. Imagine que você tem R$100 mil de recursos excedentes que deseja emprestar a uma taxa de juros razoável, digamos de 5% ao ano. Se puser um anúncio no jornal local, certamente receberá muitas respostas, mas, por outro lado, confiaria o seu dinheiro a qualquer um dos muitos que responderiam? Provavelmente, não – e por duas boas razões. A primeira é o problema dos abacaxis. Apesar das boas idéias que possam aparecer não haveria como você saber quais seriam as oportunidades de sucesso e quais provavelmente fracassariam. O medo do oculto, faz com que a maioria sinta que o melhor a fazer seria investir seu dinheiro em um Banco, aceitar uma taxa de retorno menor e deixar o Banco  cuidar do problema da informação oculta, afinal é para isso que ele existe. O preconceito de que um Banco bem administrado não oferece empréstimos antes de examinar o crédito do cliente e convencer-se da solidez de seu plano de negócio e, ainda que resolva fazer o empréstimo, o Banco tomará medidas adicionais para proteger o seu dinheiro, faz com que a maioria caia no “conto da sereia” dos CDB, LTN, POUPANÇA,  FUNDOS DE INVESTIMENTOS administrados por “EXPERTS” !

Esses poucos exemplos ilustram o fato de a falta de informação ou as informações ocultas existirem de forma disseminada no mercado e a sua importância nas tomadas de decisões. As informações ocultas são potencialmente um problema em qualquer mercado onde a qualidade dos bens seja difícil de verificar de outra forma que não uma inspeção casual. As teorias abstratas do livre mercado praticamente ignoram esse aspecto psicológico. Obviamente, as informações ocultas nem sempre impedem o mercado de operar. Isso ocorre em parte por causa das garantias dos produtos, das garantias de devolução do dinheiro e de outras medidas adotadas para diminuir o problema material e psicológico do risco da perda. Nomes de marcas são outra forma de tranquilizar os clientes sobre a qualidade. Quando alguém compra uma lata de Coca-Cola ou um quarteirão com queijo do McDonald’s, sabe o que está comprando. Empresas investem pesadamente em suas marcas e dão atenção a todos os incentivos possíveis para não maculá-las vendendo produtos que não correspondam às expectativas dos clientes. Tudo para manterem o bom nome e a confiança em seus produtos e serviços.

Investidor no mercado acionário é aquele que sabe fazer acontecer independentemente do cenário, das opiniões e das estatísticas.

O Mercado Acionário não está fora dessa regra. Questões de informação são cruciais em muitos tipos de falhas de mercado, como no desemprego, racionamento de crédito e até crises financeiras. A informação não é plenamente revelada pelos preços livre de mercado, é apenas mais um insumo no processo produtivo, tal como o trabalho e o capital. Embora seja um requisito importante para que outras coisas aconteçam, quando falta ou está escondida, as teorias econômicas das salas de aula geralmente não acontecem da mesma forma fora das salas de aula. No Mercado Acionário, o desafio está em aprender a superar a sensação de falibilidade e insegurança relacionadas à sensação de falta de controle, da impossibilidade de monitorar plenamente o comportamento dos administradores das Companhias, da falta de informações seguras destas, da volatilidade dos preços das ações, cujo medo costuma ser amplificado por não fazer parte do cotidiano da maioria dos operadores que faz com que pessoas sem o conhecimento adequado busquem apoio em pessoas com menos conhecimento que elas próprias, e aí se deixam prejudicar pelo princípio da aprovação social (onde você for, eu vou).

Galileu Galilei ficou só quando afirmou 

que a Terra não era plana

Em qualquer atividade todos irão naturalmente desejar correr bons riscos e evitar os maus riscos a fim de reduzir a possibilidade de perdas. Contudo, da mesma forma que motoristas com seguro de carro tendem a dirigir com menos cuidado; motoristas com cinto de segurança e airbag tendem a dirigir mais rápido, e proprietários com seguro contra incêndio têm uma tendência menor a instalar alarmes e extintores, o medo do oculto, do intangível, do insondável, do incontrolável, do aleatório do Mercado Acionário faz com que a maioria use-o para especular de forma imprudente comprando e vendendo, muito embora pesquisas indiquem que essa estratégia produz em 90% dos casos gastos maciços e resultados (lucros) pobres. Tal fato deveria sugerir fortemente a necessidade de uma revisão da estratégia quanto ao modo de conseguir mais retorno com o investimento, contudo, poucos buscam o conhecimento para este fim.  Quando as informações e os dados são insuficientes, o investidor precisa usar a sua intuição fruto de uma combinação de experiência com base em conhecimento correto. No curto prazo ninguém sabe para onde o mercado vai, mas é uma aposta razoável e bem racional a estratégia defensiva no foco em saber de que companhia se está comprando ações: A mais óbvia característica diferenciadora é evitar atividades econômicas de consumo irregular, sensível à restrição de crédito, e de produtos e serviços inseridos em mercados de muita concorrência, ou seja, a demanda pelos seus produtos e serviços deve ser estável na origem, ou o menos elástico (sensível) possível, tais como: serviços de fornecimento de energia elétrica, serviços bancários, internet, produtos de companhias inseridas em um mercado de competição limitada (oligopólios). Outro aspecto importante é que as informações ocultas também são causas da falta de eficiência de muitos mercados do mundo real; em razão disso, no Mercado Acionário as melhores oportunidades estão nos momentos de queda dos preços das ações de sólidas Companhias, momentos estes em que o especulador apavorado vende e o investidor inteligente compra.

DA  INSEGURANÇA HUMANA

Em 2002, o receio com a política econômica a ser adotada pelo então candidato Lula levou o dólar dos R$ 2,34 em abril para R$ 4,01 em outubro, uma alta de 71% em 6 meses.

Em 2014, a perda de popularidade e governabilidade do governo Dilma e a crise econômica do país fizeram o Dólar saltar, indo de R$ 2.24 em agosto/2014 para R$ 4,25 em setembro/2015, uma alta de 89,7%.

Em março de 2021, a decisão do ministro Fachin do STF, nos processos contra Lula, demonstrou que até o passado é incerto no Brasil, que é mais provável prever o futuro na justiça do que o passado.

Nenhuma estratégia de longo prazo pode prever e muito menos determinar os acontecimentos de modo que eles “caibam” nos planos. Toda estratégia de longo prazo pode e deve estar preparada para a necessária mudança dos planos de acordo com a evolução dos acontecimentos que lhes são externos. É preciso aceitar esta realidade. A preocupação com o correto e o medo do errado nada mais é do que o  medo do inseguro. O certo produz sentimento de segurança, o errado de insegurança, mas a vida é insegurança, o sucesso é fruto da tentativa com sucessivos erros e acertos. Não existe segurança e certeza absolutas em lugar algum. Alguém pode ter uma boa conta bancária, mas o banco pode falir a qualquer momento, ou um infortúnio inesperado pode consumir todo o dinheiro. Alguém pode ter a segurança de ter um marido ou uma esposa, mas o marido ou a esposa pode deixá-lo a qualquer momento, pode se apaixonar por outra pessoa, ou pode morrer. Tudo na vida é inseguro. A segurança é apenas uma ilusão que criamos à nossa volta, uma confortável ilusão. Os efeitos inesperados e súbitos na economia mundial causados pela pandemia do Covid-19 em 2020 é prova clara disso. E devido a essa ilusão confortável, matamos a inteligência. A pessoa que quer viver terá que viver na insegurança, terá que aceitar o fato de que nada é seguro e certo, de que a vida é uma jornada desconhecida, de que ninguém pode ter a certeza absoluta para onde está indo e até de onde veio a vida inteligente. Na verdade, exceto para os pouco sofisticados de senso crítico, ninguém pode ter certeza de coisa alguma. Quanto mais inteligente se é, mais incerteza verá em tudo, porque a vida é vasta, imensa, imensurável, misteriosa. Como alguém inteligente pode ter a certeza de que Deus existe? A simplicidade ajuda a viver "seguro" na insegurança, a viver "com certeza" na incerteza. A simplicidade é sabedoria, e a sabedoria é simples porque simplifica a vida. Contudo, o investidor inteligente sabe que no mercado de renda variável as grandes oportunidades estão muito associadas a grandes incertezas.

Com base nestas premissas, há algumas considerações  fragmentadas que são relevantes para as decisões de investimentos no mercado de renda variável. Primeiro: não se deve comprar ações de empresas cujos destinos podem ser considerados incertos diante da exposição de ciclos econômicos e à concorrência; segundo: não pagar caro na aquisição. Os resultados de expectativas exageradas costumam ser amargas. As perspectivas de rendimentos estonteantes ilimitados costumam se revelar ilusórias. O fluxo de distribuição de proventos são muito variáveis; terceiro: focar na utilidade do produto da empresa é mais importante do que a matemática ou engenharia financeira em si. A utilidade está no cerne da lei da procura e oferta.