DO QUE DEVEMOS NOS ACAUTELAR ?
O que se observa
na sociedade é que o senso comum ensina ser melhor para a nossa reputação e
preservação do emprego fracassar de modo convencional (como e com a maioria) a fracassar
sozinho, e, até mesmo, estar certo e ter êxito sozinho, quando a comprovação da
certeza não ocorre no tempo certo. Essa é a principal motivação das opiniões
ditas “politicamente corretas”. O
comportamento humano não se ajusta perfeitamente a pressupostos teóricos
rígidos. Não é sempre 100% racional. Estamos sempre acompanhados do sinistro e
da incerteza; a compra de um seguro é um reconhecimento explícito disso. É
preciso coragem para agir com luz própria. Poucos acabam no asilo de indigentes
ou no hospício como resultado de tomada de suas próprias decisões baseadas no
conhecimento adequado. Existe um nítido contraste entre as generalizações
baseadas na teoria e aquelas baseadas em experiências. Não é fácil projetar a artificialidade
da sala de aula para a experiência na realidade. O risco da teoria é nulo.
No mercado
financeiro, em razão dessa constatação, às vezes a melhor estratégia para
administradores de investimentos é imitar as ações dos demais concorrentes a
confiar no próprio discernimento. A lógica é a
seguinte: se um administrador de investimentos seguir a multidão e as coisas
derem errado, ele dividirá a culpa com os outros; se ele seguir uma estratégia
contrária, será o único responsável por seus erros. As consequências vão desde
o ambiente de trabalho até na relação da empresa para a qual trabalha e os seus
clientes. O motivo subjacente é que, se você fizer algo estúpido, mas todos os
demais fizerem a mesma coisa ao mesmo tempo, as pessoas não o acharão estúpido,
e isso não prejudicará sua reputação. As ações de boas
empresas não são necessariamente boas ações, mas o analista facilitará a própria
vida se concordar com seus clientes que são, ou de fazê-los acreditar nesta
hipótese. Exemplo: Ao convencer comprar ações de empresas tradicionais, tal
como as da Coca-Cola, quase não arriscará sua carreira, pois os clientes
culparão os idiotas do mercado se as coisas não derem certo.
Relato de um
administrador: Todo mundo achava que o mercado estava supervalorizado, mas
todos os administradores de fundos diziam: todos os outros estão investindo em
ações, portanto eu também preciso investir. Se cair, todo mundo vai junto. Se
eu sair, posso acabar sendo o único a sair cedo demais. Atitudes como essa
contribuem para uma maior fragilidade, instabilidade e formação de bolhas de
valorizações. Se todos agissem de acordo com suas próprias opiniões, haveria
uma diversidade de condutas no mercado, ao passo que, daquela maneira, todos
vão para onde o grupo for. Se o grupo compra na bolha e após vende na queda,
muitos que confiaram na ‘expetise’ dos
administradores de fundos são lesados.
Pesquisas
concluíram que jovens administradores de fundos que adotaram estratégias de
investimentos muito diferentes dos seus pares corriam mais risco de perder o
emprego, independentemente do desempenho dos fundos. A ameaça de demissão dava
aos administradores de fundos um forte incentivo para seguir a boiada, mesmo quando achassem
que a boiada estava caminhando para o precipício. Não é de surpreender que a
maioria dos jovens analistas e administradores sem a liberdade da autonomia
prefira emitir previsões de consenso, as denominadas de politicamente corretas.
Ser ousado e bom não aumenta significativamente as perspectivas futuras da
carreira de um analista ou administrador de fundo de investimentos.
Os administradores
de fundos de investimentos na ânsia de obter resultados acima da média e dos
concorrentes acabam por comprar ações apenas porque subiram nos três a doze
meses anteriores e vendendo ações que caíram no mesmo período. A estratégia não
é baseada em comprar valor e segurança financeira, mas sim apenas um taxa de
retorno sobre o capital aplicado para dar satisfações ao patrão (bancos e
corretoras) e aos clientes do patrão (investidores). Com isso, caem no mesmo
erro dos operadores despreparados que com foco apenas no preço e no valor
monetário acabam por comprar na alta (porque estavam subindo) e vendendo na
baixa (porque estavam caindo).
Muitos fundos agem
preponderantemente comprando ações que parecem subir ficando com elas por
curtos períodos, horas ou dias apenas, para após vendê-las. Eles simplesmente
seguem a multidão, imaginando que outros fundos concorrentes estão fazendo ou
farão a mesma coisa. Com isso reduzem o lucros dos investidores e aumentam os
das corretoras e bancos para os quais trabalham por meio de taxas cobradas por
cada operação.
Em agosto de 1995
iniciou a mania das ações das empresas de internet nos Estados Unidos da
América do Norte. A bolha começou para valer em julho de 1998, quando empresas
como GeoCities, eBay e TheGlobe foram negociadas em Wall Street. No início,
investidores institucionais evitavam ações das ponto.com , com o fundamento de falta
de rendimentos e lucros relevantes. Inicialmente, predominou investidores
individuais. Essa situação mudou quando o preço das ações quadruplicaram de valor.
Os administradores de fundos que as haviam evitado esforçaram-se para
acompanhar as médias de mercado. A mensagem era: se você não comprar essas
ações, é melhor você estar certo, ou acabará perdendo o emprego. Quando a bolha
das ações pontocom estourou, em 2000, os fundos de investimentos sofreram
juntos grandes perdas, mas os administradores e analistas preservaram o emprego.
A escola liberal
(preços livres) baseia-se na premissa de que a racionalidade e competição
impedem os maus resultados: nesse caso, a racionalidade direcionada pela competição
para não ficar atrás dos concorrentes agravou a falha de mercado, a ponto de
caracterizar-se por uma racionalidade irracional.
A imagem abaixo
ilustra a composição acionária da Companhia Neoenergia. Observe que os
correntistas do Banco do Brasil que aplicam o dinheiro em fundos de investimentos
do Banco, utilizam-se de um intermediário, que investe o dinheiro deles no Mercado Acionário, absolutamente
desnecessário se tivessem o conhecimento adequado para fazerem
sozinhos.