Os bons conselhos, por mais sábio
que seja o conselheiro, não pode incutir prudência em ninguém, e quem não é
prudente por si mesmo não pode ser bem aconselhado. [Maquiavel]
É frustrante dar conselhos sobre investimento no mercado de renda variável. Quase a totalidade dos humanos parece incapaz de pensar e operar na base da estratégia de longo prazo. Seu processo de tomada de decisões, o mais das vezes, sempre reage a ocorrências do dia anterior. Não querem fazer esforço para resolver problemas, mas sim apenas para se livrar deles.
Leibniz em 1703 disse: “A natureza estabeleceu padrões que dão
origem ao retorno de eventos, mas apenas na maior parte dos casos.” Sem exceções
não haveria risco, pois tudo seria previsível. A natureza se repete, mas apenas
imperfeitamente, apesar das muitas ferramentas engenhosas criadas para atacar o
enigma que permanece sem solução: o elemento invisível da estrutura completa da
natureza. Os humanos também têm de enfrentar o comportamento de algo além dos
padrões da natureza: eles próprios. O comportamento humano não faz parte do
mesmo grau de regularidade e previsibilidade encontradas na natureza. A decisão
de um indivíduo pode exercer influência sobre o bem-estar de qualquer outro
indivíduo. Uma descoberta tecnológica pode afetar a vida – para melhor ou pior –
de muitos do outro lado do mundo. O indivíduo deve considerar as respostas
prováveis dos outros às suas próprias decisões. A vida não é uma ilogicidade,
contudo, ela também é uma armadilha para os lógicos. Ela parece um pouco mais
matemática e regular do que de fato é, sua exatidão pode às vezes ser óbvia,
mas também há uma inexatidão oculta, uma turbulência à espreita. Muitos efeitos
não são lineares, não são proporcionais à causa.
A todos é concedido ver, a poucos é dado perceber. [Maquiavel]
Todos veem
como as coisas parecem ser, mas poucos sabem como realmente são. [Maquiavel]
"Eu não posso ensinar nada a ninguém, eu só posso fazê-lo pensar" [Sócrates]
"Previsões geralmente nos dizem mais sobre quem a faz do que da previsão em si". [Warren Buffett]
Os
ganhos de capital não pagam suas contas enquanto não realizados e figurar como dinheiro 'real' em
sua conta corrente. Se você espera viver de ganhos de capital, pode estar
caminhando para um desastre. O investidor de longo prazo (buy and hold) está
focado em renda perene para pagar seus boletos e proteger sua dignidade, não
está focado em ganhos de capital transitórios ou preocupado com volatilidade do
capital investido por mudanças no mercado.
COMO FUNCIONA A ESPECULAÇÃO COM OPÇÕES
A necessidade é a mãe da invenção. A opção surgiu como tentativa de equilibrar risco e retorno possibilitado pelo livre mercado do capitalismo. A opção é um instrumento financeiro derivativo, pois deriva de um ativo, mas não é um ativo. O mercado financeiro estendeu este instrumento para o mercado acionário vendendo a ideia de ganho fácil e seguro com a volatilidade mesclando opção de compra e venda. No Mundo não falta comprador para ilusão.
A motivação real
fora do mercado acionário é o de afastar o risco da volatilidade dos preços para aqueles que não têm outra opção.
Exemplo: Antes de ganhar qualquer dinheiro, o agricultor deve pagar pelos seus
insumos, plantar e, depois, esperar meses até a colheita no constante temor de
enchentes, seca, granizo, e dúvida de qual será o preço quando estiver em
condições de entregar a colheita ao mercado. Se o preço for inferior ao custo
de produção, ele poderá não conseguir pagar as dívidas e perder tudo. O
agricultor já foi 100% impotente diante dos riscos do clima, dos insetos e da
volatilidade dos preços, mas, o
capitalismo reduziu essas incertezas inclusive quanto ao preço de venda. Para isso ele vende a colheita ao plantá-la,
prometendo ao comprador a entrega futura a um preço prefixado. Seu lucro poderá
ser menor se os preços subirem, mas o contrato a termo o protegerá da
catástrofe se os preços caírem. Assim, Ele passou adiante o risco de preços
menores. Por sua vez, essa outra pessoa (comprador) costuma ser um processador
de alimentos que enfrenta o risco oposto: Ele ganhará se os preços de seus
insumos caírem, e estará em apuros se os preços subirem e aumentarem o custo de
suas matérias-primas. Essa transação de ‘negociação’ de riscos diminui o risco
total na economia.
No mercado existem
muitas pessoas cuja sobrevivência financeira é vulnerável aos riscos da
volatilidade, especialmente nos mercados de produtos primários. No século XII,
os vendedores nas feiras medievais assinavam contratos denominados letters de faire prometendo a entrega
futura dos itens vendidos. No século XVII, os senhores feudais japoneses
vendiam seu arroz para entrega futura em uma mercado chamado cho-ai-mai sob contratos que os
protegiam do mau tempo ou da guerra. Os produtos da administração de risco não
existem primordialmente para gerar lucro, mas para transferir o risco de
prejuízo de uma parte para outro disposto a arcar lucrando com ele.
O sistema financeiro estendeu esta ideia para o mercado acionário para os especuladores e os desejosos de ganhos ou enriquecimento rápidos. De onde provém o dinheiro necessário para dar liquidez às carteiras seguradas quando os preços das ações estão caindo? Do próprio mercado de ações – de todos os outros investidores a quem os “segurados” venderão suas ações. Muitos operadores de opções sequer têm consciência do papel que desempenha nesse mercado. O investidor preparado com o adequado conhecimento para suportar a volatilidade com foco no longo prazo e em renda passiva não opera preocupado com a volatilidade dos preços, ele até gosta, porque a vê como uma fonte de oportunidade de enriquecimento. Em suma, opção no mercado acionário é estratégia vendida para pobre na esperança de enriquecimento rápido e que, comumente, não sabe bem nem a que se refere ‘opção’. E quanto vale uma opção? O preço está no grau da incerteza relacionada a quatro variáveis: tempo, preços, taxas de juros e volatilidade, todas estimadas mais pela futurologia intuitiva do que pela matemática. Quanto maior o intervalo de tempo contratual, maior a probabilidade de atingir o objetivo. A opção valerá mais quando o preço real estiver acima do preço de exercício do contrato. Quanto maior a renda esperada com a opção em relação ao que ganharia com os juros do mercado e os dividendos no período enquanto espera pelo exercício da opção. Por fim, mas não menos importante, a volatilidade deve se fazer presente para que os preços pré-estabelecidos no contratos possam concretizar a operação esperada.
Imagine esta situação…
Você é um corretor de imóveis e,
estudando o mercado, prevê que teremos uma alta fortíssima dos preços nos
próximos dois anos. Sua vontade de comprar um imóvel hoje é enorme, mas você
ainda não possui os recursos necessários.
A maior probabilidade, neste caso, é
de que você acabe não comprando o imóvel hoje, tampouco daqui a dois anos,
depois de ele ter subido 40 por cento de valor e não caber novamente no seu
orçamento.
Mas imagine se um gênio da lâmpada
surgisse e te vendesse a seguinte opção:
“Te vendo a opção de você comprar um
apartamento que vale 500 mil reais hoje, daqui a dois anos, pelos mesmos 500
mil reais. Mas para isso te cobro 50 mil reais.”
Você faria esse negócio?
Vamos detalhar os resultados:
Se você estiver correto sobre o
crescimento de 40 por cento dos preços nos imóveis, esse apartamento de 500 mil
reais valerá 700 mil reais em dois anos. E você terá pago apenas 500 mil mais
os 50 mil da opção, economizando 150 mil reais do valor imaginado.
Se estiver errado, e os imóveis se
mantiverem nos mesmos preços — ou subirem, digamos, 10 por cento por ano — o
mesmo apartamento de 500 mil reais valerá no máximo 510 mil. E você terá gasto
até 550 mil reais no total. Portanto, 40 mil reais a mais do que deveria.
E aí? Você compraria a opção do gênio?
Provavelmente sim, não é mesmo? Claro
que vai depender do quão convicto você está da alta de preços no mercado. Mas
podemos perceber que o ganho potencial seria de 150 mil, enquanto a perda, de
apenas 40 mil. Parece uma boa assimetria ao seu favor, certo?
Embora esse gênio e essa opção
imobiliária não existam na vida real, o investimento em opções existe no
mercado financeiro.
Você pode comprar ou vender opções em
cima de vários ativos; as mais comuns são sobre ações, mas existem também
opções sobre câmbio ou taxa de juros.
Entender como elas funcionam pode te
colocar à frente na gestão de seu portfólio, otimizando seu risco em relação ao
retorno.
Uma forma muito propagada é a operação
com opções de VENDA.
Para saber como isso funciona, basta
imaginar o contrário da situação do exemplo acima: você possui um apartamento
no valor de 500 mil reais, mas acha que vem uma crise brava pela frente, e seu
imóvel irá desvalorizar 40 por cento em dois anos.
Apesar de ter muita vontade de
vendê-lo, você não consegue no momento, pois ainda precisa esperar o fim de um
inventário longo de família.
Nesse caso, se o mesmo gênio te
oferecesse uma opção de vender o seu imóvel daqui a dois anos pelo mesmo valor
de 500 mil reais, te cobrando 50 mil reais, você compraria essa opção de venda?
Se o mercado desabasse, e seu imóvel
passasse a valer 300 mil reais, você poderia vendê-lo por 500 mil reais,
colocando 150 mil a mais no bolso (já descontando os 50 mil da opção).
Caso seu imóvel se mantivesse no mesmo
valor, você poderia não exercer a sua opção (note que ela não é um dever, mas
sim uma opção) e vendê-lo a 500 mil reais, colocando no bolso apenas 450 mil.
Novamente: isso tudo vai depender da
sua convicção. Mas parece um bom negócio, não é mesmo?
Exatamente dessa mesma forma que a
opção do imóvel te protegeria contra quedas fortes de seu preço, uma opção
sobre ações, câmbio ou juros pode te proteger contra prejuízos nos
investimentos também. Essas opções são divulgadas como estratégia para melhorar
o perfil da sua carteira, reduzindo perdas potenciais em troca de uma fatia do
lucro.
Muitos ficam tão maravilhados com a
hipótese favorável desse instrumento que o usam demasiadamente. Contudo, ter
muitas opções gera muitos gastos, o que acaba diminuindo o lucro final. Em
tese, opções certeiras poderiam mudar o patamar de um investimento protegendo o
investidor de mudanças radicais do mercado, porém, em mais de 90% o resultado
se assemelha aos de loteria.
Pense nisso.
Para quem leu até aqui, é capaz de ler um pouco mais. Antes de decidir especular de forma ostensiva, é importante lembrar de alguns provérbios atribuídos ao Sábio Rei Salomão, indicados a seguir:
“A sabedoria do sensato faz-lhe conhecer o
caminho, mas a esperteza dos insensatos é ilusão.”
“Há caminhos que a alguns parecem retos,
mas no fim conduzem à morte.”
“O ingênuo crê em qualquer palavra, mas o
sagaz põe cuidado em seus passos”
“O Sábio é cauto e evita o mal, mas o
insensato é impetuoso e confiante.”
“O homem paciente é rico em prudência, mas
o impulsivo aumenta o desatino”
“Mais vale o pouco do que um grande
tesouro com grandes preocupações.”
“Quem presta atenção às experiências da
vida frequenta o círculo dos sábios.”
“Os tolos escarnecem o sacrifício, mas
entre os sensatos ele é bem aceito.”
“A arrogância precede a ruina, a altivez
de espírito precede a queda, e a humildade precede a honra”.
“Mais vale ser modesto com os humildes do
que repartir despojos com os soberbos.”
“Adquirir sabedoria vale mais do que ouro,
e adquirir prudência é mais precioso do que a prata.”
+++
E alguns outros de Nicolau Maquiavel:
Os homens cometem o erro de não saber limitar suas esperanças.
A ambição do homem é tão grande que
para satisfazer uma vontade presente não pensa no mal que daí a algum tempo
pode resultar dela.
Quem não espera o bem não teme o mal.
Quanto mais próximo o homem estiver
de um desejo, mais o deseja; e se não consegue realiza-lo, maior dor sente.
Há 3 espécies de cérebros: uns
entendem por si próprios; outros discernem o que os primeiros entendem
facilmente sozinhos; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos
outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os
terceiros totalmente inúteis.
+++
Os planos bem elaborados levam à fartura; mas os apressados sempre acabam na miséria. Provérbios 21:5