O SISTEMA DE PREÇOS LIVRE

Na ausência de uma competição genuína, como o governo saberia determinar os preços, e como os gerentes de fábricas saberiam que artigos produzir e em que quantidades? Supor que todo esse conhecimento estaria automaticamente em poder da autoridade planejadora parece ignorar o ponto mais importante de que os preços de mercado são, basicamente, um meio de comparar e transmitir informações. Os sistemas centralizados podem parecer atraentes no papel, mas não conseguem lidar com o problema da “divisão de conhecimento” que é o verdadeiro problema central da economia como ciência social.

Para compreender melhor, imagine diante de si a tarefa de um planejador central em uma economia coletivizada onde antes de decidir para onde dirigir as matérias-primas e os trabalhadores disponíveis, precisa saber que artigos as pessoas querem comprar e como esses artigos podem ser produzidos da forma mais barata. Mas, esse conhecimento só é mantido na cabeça dos consumidores e dos empresários individuais, nãos nos arquivos de uma agência de planejamento central. A não ser que o planejador central possa descobrir um jeito de obter essas informações, não estará em condições de dirigir os trabalhadores e as matérias-primas para os usos mais produtivos, e o resultado certo será o de um grande desequilíbrio e desperdício.

O problema central do uso do conhecimento na sociedade é o de como assegurar a melhor utilização possível dos recursos conhecidos por qualquer membro da sociedade para fins cuja importância relativa só esses indivíduos conhecem. Em resumo: é um problema da utilização do conhecimento que não é concedido a ninguém em sua totalidade.

A grande vantagem da produção organizada em um sistema de livre-mercado  é que as empresas não precisam sair e perguntar aos consumidores o que deve ser fabricado, em que quantidade e por qual preço porque estes já transmitem essas informações. Pelo preços praticados o empreendedor já pode estimar que custo deve possuir para poder competir. O preço de um bem no livre-mercado comunica se os  consumidores  compram ou não e se os produtores produzem ou não. Os preços são justos e neutros entre as partes porque, embora tenham relação com a natureza do serviço ou produto, preço de insumos, concorrência, lucros almejados, obrigações tributárias, etc. são usados livremente como referência entres as partes na negociação. Todo preço tem um significado para cada consumidor de custo marginal e utilidade marginal em razão de muitas variáveis especialmente no que se refere à renda. Um desconto sobre o preço objetiva maximizar a sua utilidade marginal. No livre-mercado os preços são justos, eficientes e eficazes na dosagem do valor relativo da maioria dos bens e serviços.

Nos primórdios do socialismo no bloco soviético, o método de reforçar a produção de artigos básicos como aço e trigo, a ideologia coletivista mostrou-se comparativamente eficaz. Mas quando as economias comunistas passaram da etapa inicial da industrialização, já não foram capazes de lidar com as variadas demandas de uma sociedade impulsionada por milhares de consumidores e diversidade de produtos. As informações sobre as preferências do consumidor se perderam ou foram ignoradas e, com isso, sacrificaram-se a inovação e as vantagens comparativas.

A determinação dos preços está entre os fatos econômicos mais complexos. Tentativas de controla-los artificialmente com bruxarias econômicas planificadas sempre produziram uma confusão generalizada cujo resultado é em efeito cascata  que termina por desorganizar a economia inteira. 

A história da pele de toupeira na economia soviética ilustra bem o problema da ausência de um sistema livre de preços. Nikolai Shmelev e Vladimir Popov em seu livro de 1990 , “The Turning Point: Revitalizing the Sovietic Economy (O ponto de virada: revitalizando a economia soviética), recordam o que aconteceu quando o governo de Moscou aumentou o preço que pagaria pela pele de toupeira, levando os caçadores a fornecer mais: As compras pelo Estado aumentaram e todos os centros de distribuição ficaram  lotados dessa pele. A indústria foi incapaz de usar todo o estoque, e essas apodreciam nos armazéns antes de serem processadas. O pedido para que o preço pago pelo governo fosse baixado não era atendido porque seus integrantes estavam muito ocupados para decidir. Não tinham tempo: além de estabelecer os preços dessas peles, precisavam manter o controle de mais de 24 milhões de preços !

O Plano Cruzado (1986) é exemplo brasileiro notório: aprisionou a realidade em uma panela de pressão lacrada com a maquiagem econômica socialista e a pressão tornou-se tanta que ao escapar explodiu o edifício inteiro. Em 1987, a inflação já era maior do que outras do plano cruzado. O Edifício da prosperidade socialista foi erguido sobre bases de geléia.

O volume de informações que as autoridades podem usar é sempre muito limitado, e o mercado contemporâneo utiliza um volume infinitamente maior do que as autoridades são capazes de conhecer e usar. Uma economia moderna é imensamente complicada e resultados agregados como o índice de desemprego e a inflação surgem de decisões tomadas por milhares de indivíduos e empresas. A economia norte-americana, por exemplo, é constituída aproximadamente por 327,2 milhões de pessoas, 110 milhões de famílias e cerca de 30 milhões de empresas (base 2018). Outros importantes atores são o Governo Federal, responsável por 1/5 do PIB, 50 governos estaduais, e numerosas municipalidades. Todos decidindo quanto, onde e como gastar !

O resultado do que ocorre onde os governos substituem os sinais dos preços na economia de mercado pelo planejamento central e por preços estabelecidos administrativamente é fato notório. O exemplo mais recente é o da Venezuela. Adam Smith, Mill e Hayek viam o livre mercado (laissez-faire) como o único fiador da liberdade individual. 

A ideologia socialista é bonita no papel, de consistência prática no exato oposto. Na prática exige um verdadeiro exército de administradores governamentais habilidosos, capazes de gerenciar as empresas estatizadas sobretudo em épocas de desaceleração econômica. Nestas épocas, os “capazes” socialistas desviam dinheiro de gastos urgentes e investimentos viáveis para  reavivar empresas mortas ou quase mortas, ou seja, para um buraco sem fundo! 

Em épocas de crise econômica, o povo torna-se mais suscetível ao ‘canto da sereia’ dos discursos a favor da ideologia socialista, embora nessas épocas a estatização faz menos sentido. 

A idealização socialista ou comunista com frequência é fruto de INVEJA, RESSENTIMENTO E REVANCHE, expressa por meio de intervenção estatal na riqueza alheia (propriedades e meio de produção), geralmente sem ressarcimento adequado aos proprietários. 

No imaginário da mente doentia dos radicais teóricos socialistas, popularmente conhecidos no Brasil como esquerdopatas, os alvos da nacionalização são exploradores capitalistas que ficaram ricos à custa da classe trabalhadora que, por sua ignorância e vez, à parte a inveja, acredita que poderá retomar e usufruir dessa riqueza confiscada por meio do Estado socialista.   

Adam Smith ( Kirkcaldy, 5 de junho de 1723 — Edimburgo, 17 de Julho de 1790) foi um filósofo e economista britânico nascido na Escócia. Teve como cenário para a sua vida o século XVIII. É considerado o pai da teoria do liberalismo econômico. Nas palavras de Adam Smith, o combustível que mantém o mecanismo do mercado em funcionamento é o egoísmo humano:

“Não é a bondade do açougueiro, do fabricante de cerveja ou do padeiro que esperamos receber o nosso jantar, mas da consideração de cada um deles por seus próprios interesses”. Não falamos diretamente à sua humanidade, mas ao seu egoísmo, e nunca falamos com eles a respeito das nossas necessidades, mas das vantagens que eles terão. Ninguém, a não ser um mendigo, prefere depender basicamente da bondade de seus concidadãos. O capitalismo não é apenas uma maravilha econômica: é um dispositivo divino que toma os atos individuais de egocentrismo e de alguma maneira os transforma em resultados socialmente benéficos."

A Teoria do Livre Mercado de Adam Smith reflete a inocência de sua origem nos meados do século XVIII. Adam Smith não percebeu em sua época que atos individuais de egoísmo nem sempre levam a resultados socialmente desejáveis. Ter consciência dos benefícios dos mercados livres não deve nos cegar para seus defeitos. A natureza humana livre polui o bom equilíbrio em tudo, sobretudo onde o foco é o dinheiro.  O fato a seguir ajuda a entender a natureza humana: Paleontólogos europeus na China do século XIX procurando adquirir ossos de dinossauros escassos pagavam a camponeses por fragmentos de ossos. A oferta subitamente aumentou. Quando os camponeses achavam ossos, esmagavam-nos para aumentar o número de pedações que podiam vender. Isso não era bem o que os paleontólogos esperavam obter com o estímulo econômico. Essa observação é importante porque demonstra como as pessoas violam rotineiramente os modelos de comportamentos "racionais" nas estimativas teóricas dos economistas. O impacto disso é tão relevante que fomentou o surgimento da "economia comportamental". O livre mercado possibilita tanto fornecer “o bom para mim e o bom para você”, quanto “o bom para mim e o ruim para você”. São exemplos notórios os mercados do: tabaco, álcool, drogas e jogo. O crescimento econômico não é só para o bem.  Nem sempre é possível tomar o todo pela parte. Exemplifico: Em 1907,  a Índia tinha praticamente o monopólio muito lucrativo do comércio de juta, um vegetal fibroso do qual se pode tecer sacos. Alguns comerciantes desonestos ameaçavam o negócio vendendo uma espécie inferior e barata de juta que não tinha durabilidade. Era teoricamente possível que se os compradores no exterior evitassem a juta indiana, os comerciantes desonestos fossem obrigados a fechar as portas, e que o livre mercado corrigisse o problema. Contudo, as pressões da concorrência obrigavam que os comerciantes indianos honestos imitassem os desonestos, para não perderem a sua fatia do mercado ou mesmo desaparecerem. Embora a adulteração fosse claramente contrária aos interesses de todo o mercado ( o coletivo ), era do interesse ou necessidade  individual praticá-la, fosse pelo lucro ou pela sobrevivência. Esse é um exemplo onde a única solução está na intervenção do governo por meio de aprovação de leis que protejam simultaneamente os produtores honestos e os compradores. O paradoxo da poupança é outro exemplo emblemático: Se todas as pessoas poupassem mais em momentos de declínio da economia, as indústrias de construção, de hotelaria e de veículos podem ser obrigadas a dispensar empregados.

Quando a economia entra em declínio ( conforme fim do governo do PT em 2015 e 2016 ) as pessoas ricas tendem a entesourar seus recursos. Ainda que o Banco Central imprima mais dinheiro as pessoas e empresas tendem a segurar o dinheiro extra em vez de gastá-lo. A economia fica  presa numa armadilha de liquidez, onde novos aumentos de oferta de moeda provocará pouco ou nenhum impacto sobre as taxas de juros e os gastos. Na crise financeira nos USA de 1932, quando grande número de bancos faliu, a maioria ficou propenso a não abrir mão de sua poupança em dinheiro mesmo diante de alternativas razoáveis.

Adam Smith não considerou que os interesses egoístas individuais nem sempre andam em paralelo ou contribuem mais que proporcionalmente para o interesse coletivo. A época em que viveu também o influenciou . Ele certamente não poderia tratar todos os problemas que afligem as economias das sociedades modernas. Uma das características definidoras da teoria econômica era a sua abstração da realidade. Tanto o pessoal da “teoria do equilíbrio geral” quanto os ferrenhos defensores da metáfora “da mão invisível” de Adam Smith (Escola de Chicago) pintavam o mundo em termos do modelo da competição perfeita, embora houvesse alguma variação em torno de seus critérios. O mundo contemporâneo mostrou que as economias de livre marcado produzem tanto feedbacks positivos quanto negativos. No Mundo moderno, se uma fábrica de produtos químicos emite fumaça nociva sobre um projeto habitacional nas proximidades, o direito que tem a fábrica de realizar seu legítimo negócio é examinado em face do direito que as pessoas que vivem nas proximidades têm de respirar ar puro e não apenas pelas regras da eficiência da economia com base no princípio dos preços livres. Apesar de ter sido alguém além de sua época, há muitos aspectos da interdependência social que não poderia sequer ser imaginado por alguém de sua época. Em sua forma extrema, a crença no livre mercado total e irrestrito é tão ingênua quanto à crença em Papai Noel. A ânsia para aumentar os lucros cega muitas pessoas para qualquer coisa que possa estar no caminho. Quanto o lucro se torna um bem supremo, irrestrito por qualquer outra consideração ética, pode facilmente levar à catástrofe. O capitalismo já matou milhões por pura indiferença unida à ganância, porém, a seu favor está que a forma de tentar governar o mundo de forma radicalmente diferente - o comunismo - foi muito pior em praticamente todos os aspectos concebíveis.

Vejamos um exemplo no mundo dos negócios mais popular onde o interesse coletivo supera o individual: refiro-me à competição entre restaurantes. É ruim para os seus donos e ao mesmo tempo bom para o coletivo (os clientes) e - sob certo ponto de vista - para os próprios restaurantes que são forçados a melhorar para não ficar para trás. Se cada restaurante fosse infalível e resistente à competição não ofereceriam nada além do que uma comida de bandejão.

No mercado algumas partes precisam ser vulneráveis para que o coletivo seja forte. A desigualdade de renda alimenta o consumo de artigos de luxo. Esse tipo de negócio ganha com a dispersão da renda, com a minoria rica em seu extremo e não com o aumento da média.

Vejamos uma situação onde o interesse individual supera o coletivo: Quando uma central elétrica queima carvão para gerar eletricidade, o dióxido de carbono  que ele cria é um subproduto que escapa para a atmosfera. Produzir eletricidade a partir do carvão é muito mais barato do que construir vastas fazendas de moinhos de vento ou instalar painéis solares. Dito de outra forma: os custos sociais da queima do carvão e de outras formas de carbono divergem do custo industrial (privado, individual).

Como as pessoas que participam da economia buscam seus próprios interesses, na melhor das hipóteses é preciso receita para cobrir os custos, reagindo aos sinais que os mercados emitem, tal como o custo comparativo de produção. É nesse sentido que as questões climáticas são um fracasso de mercado que não é corrigido por qualquer instituição ou pelo próprio mercado, a não ser que haja intervenção política.

A essência da utopia da economia absolutamente de livre mercado é a de que esta com o seu conjunto de preços, com os quais empresas e consumidores equacionariam custos privados e benefícios privados, produziriam um resultado eficiente. Ela não considerava a relação entre custos sociais e benefícios sociais, do ponto de vista da sociedade, do interesse coletivo. O livre mercado puro e simples não leva a esse equilíbrio e os resultados que produz nem sempre são eficientes e socialmente desejáveis.

Um exemplo clássico onde o valor social de uma atividade é mais baixo que o seu valor privado é o de uma fábrica que despeja dejetos tóxicos em um rio. Um exemplo clássico onde o valor social supera o valor individual é o de iluminação de um parque público, onde existe a dificuldade de cobrar-se pelo uso, muito embora os benefícios sociais sejam claramente substanciais.

A grande contribuição de John Maynard Keynes foi a de acreditar que a análise cuidadosa da economia revelava numerosas áreas onde não se justificava uma política de laissez-faire, e justificava assim a necessidade de uma intervenção pública. Os participantes do mercado geralmente não fazem a distinção entre o valor privado (particular, individual) e o valor social da atividade econômica. Os industriais não estão interessados no social, mas apenas no produto privado líquido de suas operações, sobretudo quando o coletivo representa aumento de custo e queda de receita. Em todos os países há falhas e imperfeições, mesmo nos mais desenvolvidos. Há muitos obstáculos à distribuição dos recursos de uma coletividade da maneira mais eficiente. Essa adoração à mão invisível não menciona que o que, em geral, habilita as economias modernas a "se corrigirem" é a pronta mão governamental.

No Brasil de hoje vivemos a polêmica gerada pelo discurso liberal direcionado para desmoralizar os intervencionistas e vice-versa. Contudo, com uma característica peculiar, a maioria dos interlocutores são ignorantes e falastrões que não sabem com profundidade do que estão falando. As críticas ao capitalismo se pautam mais em rancor alimentado pela inveja e ignorância do que pela razão. As agressões vão de frases de insinuações sarcásticas até a agressão física. Dependendo do momento econômico, a massa do eleitorado brasileiro elege uns como prodígios e outros como trapalhões incompetentes ou peças de museu, nada impedindo que troquem de posições com as circunstâncias do momento.


O comunismo também fracassou porque foi incapaz de incentivar a inovação, a atividade empresarial e o trabalho duro. O capitalismo progrediu também porque recompensou essas coisas, ao mesmo tempo em que castigava o conservadorismo e a vadiagem. O sistema do mercado capitalista é cruel e implacável, mas como até Marx observou, é incomparavelmente produtivo. Ele motivou expedições que suplantaram todos os êxodos de nações e cruzadas.

John Maynard Keynes dizia que o capitalismo precisava de uma supervisão adulta: sem fiscalização, ele tinha produzido uma depressão em escala mundial, e, em última análise, o fascismo e o comunismo. Nos anos 1930 e 1940, já era mais que óbvio que as pessoas comuns precisavam de assistência médica decente, ar respirável e dinheiro para se aposentar, e que o mercado totalmente livre não conseguiria oferecer nada disso. Por que? Porque a natureza humana não possui o atributo da honestidade como valor absoluto e a maioria é capaz de fazer tudo por dinheiro ! De forma muito simples, mas no âmago da questão, Adam Smith, em sua teoria do livre mercado, falhou em não considerar a natureza humana. A base da economia do livre mercado está no bem da coletividade por meio da busca racional do interesse egoísta individual, sendo este um detalhe no conjunto natureza humana.

Ao transferir o nível de análise econômica do interesse individual para toda a economia e ao desacreditar algumas doutrinas de livre mercado extremamente enganadoras. Keynes deu importante contribuição não apenas à economia, mas á história. A idéia de que a oferta cria sua própria demanda desapareceu.

Vejamos o que motivou a crise econômica no mercado norte-americano em 2007 e 2008 conhecida como a bolha do mercado de hipoteca imobiliária.

Antes da crise da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008, os diversos interessados no mercado do crédito hipotecário estimulados pela remuneração baseada em incentivos vinculados às taxas de retorno geradas por suas empresas disfarçaram o nível do risco que seus clientes corriam,  os corretores de hipotecas induziram famílias de baixa renda, sem trabalho seguro e sem patrimônio a contratar arriscadas dívidas em razão de seus ganhos monetários em comissões. Assim como os analistas de crédito que aprovaram os empréstimos, os Bancos de investimentos que os “maquearam” em títulos “seguros” lastreados em hipotecas, os analistas das agências de avaliação de risco que ratificaram esses títulos como seguros, e os administradores de fundos de investimento que os compraram. O boom das hipotecas com garantias duvidosas é um exemplo emblemático do fracasso do capitalismo de livre mercado diante de uma percepção limitada, da incerteza, de informações ocultas, da tendência de seguir a moda (efeito manada) e da abundância de crédito.

A ganância é onipresente, é o “primitivo” do modelo capitalista. Ela é agravada pelo ambiente social competitivo que não incentiva a humildade de recuar. Ao contrário, ela estimula a prosseguir na estupidez. Ao falhar em respeitar algumas regras, como trocar bens por dinheiro, respeitar a propriedade privada e agir com honestidade, o homem “tropeçou” no método do livre mercado de preços; o socialismo foi uma tentativa fútil de subverter o processo evolutivo do ser humano na luta contra a sua própria natureza. Quando o muro de Berlin veio abaixo e o comunismo entrou em colapso Friedrick August Von Hayek , já muito idoso, o maior defensor do liberarismo econômico após Adam Smith, não divulgou qualquer declaração pública, mas gostou muito de ver as imagens de Berlim, Praga e Bucareste na televisão. Disse seu filho Laurence: “Ele sorria de contentamento”; e o comentário era: “bem que eu disse”.

A rude desigualdade social como parte inevitável do capitalismo de livre mercado, tal como idealizado por Adam Smith, (o liberalismo total) produziu crises que evoluiu para o extremo oposto da prioridade do planejamento de modo centralizado da distribuição de recursos de maneira “justa” e, depois, secundariamente, confiar que o mercado assegure um resultado eficiente. De novo, um engano. Na teoria, nada impede que a economia alcance o “ponto de equilíbrio”, mas na prática conceitos abstratos desenvolvidos na alta matemática nas salas de aula nem sempre têm paralelo com a economia social (comportamental). Metaforicamente: duas linhas paralelas não têm uma solução comum. 

As falhas do excesso de liberalismo fomentou crises que resultou no comunismo e o fascismo ( excesso de intervenção ) cuja falência por sua vez produziu a economia social de mercado. Esta realidade deu origem a uma pergunta difícil: como ter certeza de que os sinais de preços enviados pelo mercado são os corretos? Não é porque o planejamento central fracassou que se deve achar que os mercados sempre funcionam corretamente e vice-versa!

A metáfora da ‘mão invisível’ de Adam Smith foi substituída pela teoria geral do equilíbrio. O que nos diz essa teoria? A mesma coisa que a metáfora de Adam Smith com um novo título. Ela nos diz que existe um mecanismo coordenador funcionando acima do nível do organismo econômico individual. Essa função é desempenhada pelos preços, que dão um sinal do valor marginal dos bens para os consumidores, e dos custos marginais desses bens para os produtores. De modo que, em um mercado competitivo, não é preciso que um supercomputador ou um planejador central tente otimizar todo o sistema considerando todos os trilhões de interações entre os diferentes organismos econômicos, pois os sinais apropriados são transmitidos pelos preços.

Nem o liberalismo exagerado, nem o planejamento central exagerado conseguiram melhorar a vida de todos, por diversas razões desde a individualidade das pessoas até a interdependência dos fatores de produção e consumo que indica que a melhora na vida de uns comumente implica na piora na de outras pessoas. Atualmente, uma única loja da Wal-Mart contém dezenas de milhares de itens diferentes. Em toda a economia, há inúmeros mercados, muitos deles interligados. Quando a OPEP reduz as cotas de produção e o preço do óleo para aquecimento sobe, algumas famílias de baixa renda são obrigadas a comprar menos alimentos e roupas, e cresce a demanda por aquecedores elétricos e janelas de isolamento térmico. O preço do pão tem impacto na demanda por manteiga. O serviço de trens Amtrak, entre Nova York e Washington, afeta a demanda de voos entre as duas cidades. São incontáveis as interações existentes.

É certo que os mercados competitivos têm a vantagem comparativa de serem mais eficientes, haja vista ser uma impossibilidade tirar recursos de uma pessoa e dar a outra mais necessitada em uma organização social construída sob o primado da liberdade. Desta feita, a única maneira de melhorar a produção do mercado é criar condições para que possam ser fornecidos os produtos que o povo deseja, na quantidade certa, pelo preço mais baixo de acordo com seus critérios de escolha e valoração. Não podem comprar o que quiserem – isso é utópico - , mas, levando-se em conta seu orçamento, o mercado de preços mais livres lhes permite fazer o melhor que podem.

Ilustro a complexidade que pode existir em uma hipótese simples: Imaginemos o personagem Robson Crusoé e uma ilha. Tomemos como premissa que ele precisava resolver como distribuir seu tempo e sua energia para conseguir o máximo bem-estar. Ele deve gastar mais tempo na caça ou na pesca, na construção de uma abrigo ou na fabricação de vestuário? Na prática: Se for mais fácil pegar um peixe que capturar uma animal terrestre, ele deve ir para a praia. Se o seu teto goteja chuva, ele deve reparar o teto, etc..Do ponto de vista da teoria econômica, ele deve executar cada atividade até que o benefício adicional produzido por outra hora dedicada a qualquer delas seja o mesmo. Mas os seres humanos são animais sociais, respiram o mesmo ar, partilham os mesmos prédios e disputam uns com os outros por recursos, etc..Nesse ambiente de milhões de interações, os “respingos” são endêmicos – mesmo em nossa casa. Se permanecemos diariamente em um ambiente com muitos fumantes, corremos mais risco de ter câncer de pulmão; se o vizinho ouve música em volume alto, tarde da noite, nosso sono é prejudicado, etc. Nem todo respingo é negativo. Imagine um apicultor situado perto de um pomar de macieiras. Ao polinizar as flores das macieiras, as abelhas ajudam o proprietário do pomar a produzir mais frutas; ao fornecer néctar para as abelhas, as macieiras ajudam o apicultor a produzir mais mel.

Do ponto de vista econômico, a questão atual é a de encontrar um meio-termo pragmático entre o laissez-faire e o coletivismo. Em 1962, Ludwig Erhard, professor na pequena faculdade Albert-Ludwigs-Universitat, em Freiburg na Alemanha Ocidental, ficou conhecido como o fundador da economia social de mercado, caracterizada por defender intervenções do governo no sentido de corrigir imperfeições do livre mercado. De uma perspectiva purista, o seguro-saúde, a previdência social, a educação financiada pelo Estado, os programas de desenvolvimento regional e as agências reguladoras representam violações aos princípios do laissez-faire, mas nenhum deles infringe mortalmente o núcleo industrial e financeiro dos sistema de livre empresa. Nos dias atuais o cerne da discussão está na dose de intervenção do Estado na economia de mercado.

Em toda economia mais ou menos liberal sempre haverá pessoas que se sairão melhor que outras. E, quase tão importante quanto, está em quem decide: você ? Eu? O governo? Em qualquer sistema econômico haverá diferenças de opinião, de escolha, de valores, de valoração das coisas. A teoria da “mão invisível” de Adam Smith dizia que as economias de mercado seriam estáveis, e isto ficou provado ser um grande equívoco. Na ausência de regulamentação os gigantes dominarão subjugando a concorrência. O resultado será  a ineficiência e, possivelmente, o escândalo.

Se com regulamentação cigarros foram vendidos por décadas sem o alerta de serem cancerígenos; propagandas de que cervejas contém substâncias relevantes para a saúde; que chocolate em excesso não faz mal; crianças são estimuladas ao consumo de refrigerantes, etc..Imagine o que seria sem regulamentação.

As falhas de mercado vão dos problemas “micro” a defeitos “macros”, que afetam toda a economia. Geralmente, porém, a linha divisória não é muito clara. A economia de livre mercado tem limites. O economista Francis Bator escreveu dois artigos memoráveis sobre os limites da economia de livre mercado em meados do século XX. Ele examinou as circunstâncias em que o sistema de distribuição do livre mercado não manteria atividades desejáveis ou não interromperia atividades indesejáveis. Ele observou que o Mundo está repleto de coisas que violam as suposições do modelo: informações imperfeitas; inércia, resistência à mudança; incertezas e expectativas inconsistentes.

As incertezas e as informações imperfeitas são características fundamentais de qualquer economia que contribuem para a má alocação de recursos. Como? O tempo não corre para trás, o futuro é desconhecido e os negócios, os investidores e os consumidores são levados a tomar decisões com base no melhor palpite no presente sobre o que pode vir a acontecer. Às vezes esses palpites se revelam precisos. Em geral, não. E quando isso acontece, os recursos tendem a ser mal alocados. Mesmo em um mundo com previsões perfeitas haveria pelo menos três fontes de falhas de mercado:

1.Uma é o poder do monopólio ou oligopólio. Este problema é tão velho quanto a economia. Muitas pessoas tomam conhecimento do assunto desde quando crianças ao brincar com o popular jogo Banco Imobiliário cujo objetivo é comprar o máximo possível de propriedades e, após, cobrar dos adversários aluguéis exorbitantes. Nas indústrias de produção em massa, as grandes empresas quase sempre conseguem enfraquecer as menores, e, com o passar do tempo, um pequeno grupo dominará o mercado. Com a competição restringida a uns poucos grandes atores, as empresas podem fixar os preços bem acima dos custos, violando com isso as condições da eficiência econômica do livre mercado.

Em todo monopólio tem-se um sistema econômico que é, em parte substancial, uma economia planejada. A iniciativa de decidir o que será produzido não vem de sinais obtidos do mercado. Em vez disso, vem da grande organização da produção que se apressa em controlar mercados aos quais deveria servir e, além disso, dirige o consumidor para que satisfaça as necessidades do produtor.

2.A segunda falha é quando não há retorno financeiro para as empresas investirem em coisas que as pessoas consideram valiosas porque não poderiam cobrar preços suficientemente altos para que pudessem valer a pena. Uns exemplos mais notórios seriam: o de uma usina atômica e o serviços de proteção das forças armadas. Essa é a questão dos “bens públicos”.

O capitalismo é um sistema de direitos de propriedade. Em alguns casos, esses direitos estão bem definidos e são fáceis de aplicar. A American Airlines tem aviões com os quais voa para cidades do mundo inteiro. Pagando determinado valor, você e eu podemos comprar o direito de ocupar um assento em um desses voos. Se não temos condição de pagar, não entramos no avião. Imagine ainda que tenhamos o dinheiro, mas você comprou o último lugar no voo e não há mais lugar para mim, o assunto está encerrado. Nesse sentido além do atributo da exclusão de acordo com a renda disponível, há o atributo da competição ou concorrência ou rivalidade. Essa é a base da livre-iniciativa.

Agora examine o caso da Força Aérea de um País. Ela também é dona de uma grande frota aérea, que usa para patrulhar os céus e proteger os nacionais contra possíveis ataques. A Força Aérea presta um serviço importante à população de um pais e poderia vender o serviço aos indivíduos, mas por que isso não ocorre? O bem “defesa nacional” não se adapta às regras da iniciativa privada. O seu custo é altíssimo, na prestação de seu serviço não há exclusão em razão da renda dos indivíduos e não há competição entre estes para receber o serviço de proteção, ou seja, não é mutuamente excludente. O fato de a Força Aérea defender um indivíduo não exclui outro. Outros casos óbvios incluem: sistemas de irrigação, iluminação pública, direito ao ar puro. De forma menos óbvia: a educação, a  saúde, saneamento, parques, polícia, etc..

No Brasil, dessas necessidades quase ninguém precisa ser convencido. Elas existem em exuberância porque, como as autoridades públicas de todos os tipos e níveis explicam todos os dias com abalizada habilidade, não existe dinheiro para satisfazê-las. A economia brasileira nunca esteve preparada para satisfazer as necessidades mais urgentes dos valores humanos. Sem dúvida, outros fatores tiveram mais importância, como a preocupação com a atividade de grupos de interesse privado e gastos com projetos paternalistas do governo.

No domínio dos bens e serviços não rivais e não excludentes, o fornecimento público não é apenas inevitável, ele é necessário para assegurar um resultado eficiente. Um bem público de grande importância e que escapa à atenção da política brasileira é o conhecimento científico. Nos anos 1950, Robert Solow, economista do MIT, clculou que, de 1909 a 1949, o progresso técnico-científico sob a forma de novas invenções e novos métodos de organizar a produção foi responsável por cerca de 51% do crescimento anual do PIB americano, o que significava que esse avanço contribuiu mais para a prosperidade do país que o crescimento da população e a acumulação de capital juntos.

Embora o conhecimento não esteja associado claramente à rivalidade e a exclusão. No que se refere às novas tecnologias que são o resultados de elevados gastos em pesquisas e desenvolvimento, incertos e em grande parte não excludentes, muitas empresas preferem deixar que outras a descubram para depois copiá-las. Isso significa que após gastos elevados o êxito poderá ser “furtado”, e a companhia que gastou poderá ficar sem o lucro esperado.

3.A terceira falha são os denominados “respingos” negativos das interdependências dos fatores da economia. Conforme já dito, em toda a economia há incontáveis micro e macro interdependências. Quando a OPEP reduz as cotas de produção e o preço do óleo para aquecimento sobe, algumas famílias de baixa renda de locais frios são obrigadas a comprar menos alimentos e roupas, e cresce a demanda por aquecedores elétricos e janelas de isolamento térmico. O preço do pão tem impacto na demanda por manteiga, etc.. Muitos tipos de fracassos de mercado se caracterizam pela interdependência humana. O que eu faço afeta o seu bem-estar e vice-versa. O mesmo se aplica aos negócios: Quando uma indústria reduz seus preços ou oferece empréstimos sem juros, as suas concorrentes são pressionadas a fazer algo parecido, ainda que suas finanças já estejam apertadas. E, comumente, não há possibilidade de entendimento em conjunto para que todos saiam ganhando. Cada empresa precisa tomar decisões de modo independente, levando em conta o que a outra possa fazer! É possível esperar cooperação para uma solução mutuamente benéfica? Ou se entregam à competição desenfreada? Uma experiência envolvia três filhos adolescentes. Foi oferecido aos três  um trabalho para tomar conta de crianças e foi realizado um leilão reverso pedindo a cada adolescente que dissesse qual era o salário mais baixo que aceitaria, com lance inicial de U$4. Apesar do explícito incentivo para uma disputa amigável, os jovens acabaram apresentando lances concorrentes, e o vencedor, que obteve o emprego, foi de apenas U$0,90. Se os três adolescentes tivessem concordado em apresentar um único lance de U$4, poderiam dividir o trabalho e o dinheiro, ficando cada um com U$1,33. Se foi esse o comportamento das crianças, que dizer dos superespertos adultos? Em geral, prevalecem estratégias egoístas que conduzem a um resultado inferior para alguém ou alguma coisa. Em muitas indústrias, as empresas gostariam de restringir o fornecimento e aumentar os preços, mas essa estratégia de conivência tácita é difícil de manter porque cada uma é incentivada a enganar e aumentar sua produção. Isso é especialmente verdadeiro em indústrias que produzem um bem homogêneo, como petróleo, em que é mais difícil detectar a tapeação.

Podemos ilustrar esta observação (competição e egoísmo) com a crise do financiamento hipotecário nos USA. Em um certo momento um número limitado de famílias tem a renda e a segurança no emprego necessárias para pagar uma hipoteca no prazo. Mas, quando os preços das casas sobem e os juros são baixos, bancos e outras empresas de financiamento relaxam seus padrões de créditos em busca de lucro rápido, emprestando dinheiro para pessoas que estão a um passo da inadimplência. No começo, algumas das empresas de financiamento mais responsáveis se contêm, mas, vendo que seus concorrentes ganham fatias de mercado, a pressão para mudar de estratégia é irresistível. Com o tempo, quase todas as empresas na concorrência adotam uma estratégia de alta produção, com consequências deletérias que podem ultrapassar a relação entre credor e devedor. As empresas concorrentes são prisioneiras uma das outras. A isso se denomina de “dilema do prisioneiro”. A ruína é o destino para onde muitos correm diariamente, cada um buscando seus próprios interesses numa sociedade que acredita na liberdade. Nos USA, madeireiras dizimaram partes da região das sequoias da Califórnia, enquanto em Nova York, Flórida e muitos outros estados projetos desenfreados de desenvolvimento imobiliário ameaçam as fontes naturais de abastecimento de água potável. O primeiro passo para impedir tais resultados é reconhecer a natureza universal da irracionalidade racional e quanto é difícil vencê-la.


Muitos perguntam: como pode ser racional para uma sociedade arquitetar sua própria ruína? Todos não sairiam lucrando se todos usassem menos os recursos públicos comuns ? O erro desse raciocínio é elementar. Um indivíduo não é uma entidade abstrata chamada “todo mundo”. Somos todos indivíduos separados, cada um com objetivos próprios. Mesmo quando nossa capacidade de amar nos leva a fazer sacrifícios pelos outros, cada um de nós só pode fazê-lo à sua maneira, e por suas próprias razões. Se fingirmos que não é assim, não há esperança de que algum dia saibamos lidar adequada e sensatamente com as tragédias da vida em coletividade.

Os videos ilustram o caos econômico em um país com sistema de preços controlado:







Warren Buffett afirmou que seria um mendigo na rua se os mercados sempre fossem eficientes. Em outras palavras: o mercado não é perfeito, os preços das ações não refletem necessariamente a realidade, a teoria na prática pode ser outra ! 

Para aproveitar as oportunidades precisa-se além do preparo intelectual adequado muita confiança em si e autoestima. Até o meado do século XX optar por um sistema econômico mais liberal ou mais centralizado era um questão filosófica. O mundo havia saído de um sistema muito liberal que gerou muitos problemas para um sistema muito oposto que ainda não havia mostrado o seu resultado com transparência. Atualmente, ser o que se denomina no brasil "de esquerda" não é mais uma questão de filosofia de vida, mas de psiquiatria: de inveja, de ressentimento, de frustração, de insegurança, de ignorância, de falta de autoestima.



No Livro "A Psicologia dos Investimentos" o leitor aprenderá a utilizar a volatilidade dos preços livres das ações para obter sucesso como investidor no mercado acionário que representa uma grande oportunidade do sistema capitalista.