A ESPECULAÇÃO

 A ESPECULAÇÃO – O CONHECIMENTO

A PSICOLOGIA DA COLETIVIDADE


"Perde-se mais pela ansiedade de querer ganhar do que por outros motivos"

"O ganho rápido tem como contraponto a perda rápida"

Se você quer viver como 1% melhor vive, precisa aprender o que eles sabem e deixar de fazer o que 99% fazem.

Quem faz o que quer no curto prazo [presente] poderá ter que suportar o que não quer no longo prazo [futuro]

A maioria das pessoas perde a sensatez quando no imaginário existe uma forte expectativa de possibilidade de aferir lucros rápidos e fáceis. Em razão disso, inúmeros incentivos são criados para estimular este viés comportamental imensamente pernicioso sob o aspecto individual. O estímulo a incentivos distorcidos é muito marcante no mercado financeiro, mas existe em toda a economia. Diariamente são vistos estímulos a consumir medicamentos e dietas que promovem o emagrecimento rápido; estímulos a consumir produtos e serviços que não são tão necessários quanto o que é dito; refrigerantes que podem ser consumidos sem limite e até parece não fazer mal à saúde. Propagandas enganosas para induzir ao consumo é um tipo de fracasso da economia de mercado endêmico na economia moderna. Fazem parte do fracasso do mercado a existência de informações ocultas, a incerteza e as bolhas especulativas.  No mercado acionário, pelo interesse econômico dos agentes intermediários do sistema financeiro, aos fracassos da especulação são dados menos  atenção que o sucesso do investimento; ao foco no curto prazo é dado mais atenção que no longo prazo; o sucesso da estratégia do investimento de longo prazo jamais produziu mais efeito que o “sucesso” da especulação. 

É preciso ter o conhecimento adequado para não se tornar vítima da ilusão da harmonia  existente na economia de livre mercado. Embora as pessoas ajam de modo racional, a racionalidade é dependente das limitações mentais de cada indivíduo. A busca dos próprios interesses da melhor forma possível necessita do conhecimento adequado. Some-se a isso os ruídos naturais existentes em toda comunicação causados pela subjetividade do emissor e do receptor das informações. Um fato relevante no Mercado Acionário é que, em geral, este emite sinais errados por meio do seu sistema de cotações dos preços das ações.

A ganância é onipresente, é o “primitivo” do modelo capitalista. Ela é agravada pelo ambiente social competitivo que não incentiva a humildade de recuar. Ao contrário, ela estimula a prosseguir na estupidez. 

A Providência se move devagar, mas o demônio está sempre com pressa.

Antes da crise da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008, os diversos interessados no mercado do crédito hipotecário estimulados pela remuneração baseada em incentivos vinculados às taxas de retorno geradas por suas empresas disfarçaram o nível do risco que seus clientes corriam,  os corretores de hipotecas induziram famílias de baixa renda, sem trabalho seguro e sem patrimônio a contratar arriscadas dívidas em razão de seus ganhos monetários em comissões. Assim como os analistas de crédito que aprovaram os empréstimos, os Bancos de investimentos que os “maquearam” em títulos “seguros” lastreados em hipotecas, os analistas das agências de avaliação de risco que ratificaram esses títulos como seguros, e os administradores de fundos de investimento que os compraram. O boom das hipotecas com garantias duvidosas é um exemplo emblemático do fracasso do capitalismo de livre mercado  diante de uma percepção limitada, da incerteza, de informações ocultas, da tendência de seguir a moda (efeito manada) e da abundância de crédito.


 EFEITO MANADA

O problema de muitos é consolo de TOLOS

Aonde você for, eu vou



Metáfora:  Enquanto a música estiver tocando, todos estarão de pé e dançando, mas quando a música para, em termos de liquidez, as coisas complicam.

Por que mais de 90% das pessoas perdem dinheiro na Bolsa de Valores? O motivo é bem simples: quase a totalidade dos operadores agem focados no valor monetário do capital investido. Eles não conhecem a vantagem de proteger o capital da depreciação no longo prazo adquirindo ativos reais e a volatilidade dos preços os fazem desesperar quando o preço cai para abaixo do que pagaram. O foco é praticamente no ganho de curto prazo.

Estatística: 99% dos traders falham; O mercado é positivo em 52% dos dias; 60% dos meses; 70% dos anos; 95% das décadas. Quem investe no prazo de dias joga moedas: se jogar mais de mil vezes, obterá no máximo 50% de ganho e 50% de perda, ou seja: nada.   A probabilidade de acerto no curto prazo é casual e, de forma bem simplória, de 50%, considerando-se que só existem duas direções que as cotações podem ir (sobe ou desce). Porém quando se perde 20% nominalmente não basta ganhar novamente 20% para voltar ao valor original. É necessário ganhar efetivamente 25%. Exemplo: você tinha 100, perdeu 20%, ficou com 80. Agora se ganhar 20% de 80 vai para 96. Precisa ganhar 25% de 80 para retornar a 100. Quanto maior a porcentagem perdida, maior é a assimetria para retornar ao valor original. Se perder 50%, precisa ganhar 100% para retornar ao valor inicial, etc.. E para piorar, existem corretagens, spreads, custódia, liquidação, emolumentos, inflação, swaps. Quando se desconta todas essas taxas e efeitos em cada operação, embora sejam taxas aparentemente pequenas, o acumulo de custos consome uma parte substancial do dinheiro. Seria necessário ainda que a estratégia utilizada fosse capaz de compensar essa assimetria e ainda cobrisse todas as despesas. Como mais de 99,9999% das estratégias não produzem resultados estatisticamente diferentes de compras e vendas aleatórias, então a grande maioria das pessoas acaba perdendo conforme determina a estatística do aleatório aos casos da espécie.

Se a pessoa praticar Buy & Hold de longo prazo, como isso implica pagar menos taxas, e os preços dos produtos e serviços das companhias acabam tendo uma valorização real acima da inflação, então a pessoa acaba ganhando, embora o ganho no valor monetário seja volátil porque as oscilações são muito grandes. A forma de compensar essas oscilações é simples: saber o comportamento esperado da atividade econômica a que se refere o ativo que está comprando; saber se no momento da compra o preço está caro ou barato e reaplicar os dividendos, sobretudo quando o preço do ativo estiver abaixo do que pagou, isso fará reduzir o custo médio. Como as pessoas não acham satisfatório o nível de ganho razoável no longo prazo, acabam optando por alternativas especulativas com base nas  oscilações de preço, apostando que as oscilações lhes serão favoráveis, quando  na verdade o resultado esperado é justamente o contrário, pelos motivos expostos acima. A única alternativa realmente melhor seria utilizar uma estratégia eficiente, o que é inexistente, por isso é que a esmagadora maioria perde. Da estratégia de comprar quando o mercado está assustado e vender quando está superconfiante, só a primeira parte importa ao investidor, a segunda fica para os operadores de curto prazo popularmente denominados de especuladores.  Há quem se paute em informações privilegiadas, embora isso seja ilegal e tenha consequências muito graves para o funcionário da empresa que vazou a informação  e para o investidor que lucrou com isso, infelizmente é algo q realmente acontece. Porém isso não explica porque as pessoas perdem. Isso explica porque alguns investidores desonestos conseguem ganhar. Outro detalhe sobre as informações privilegiadas é que nem sempre elas estão corretas, e mesmo que estejam corretas, não há garantia de que sempre  funcionam. Quando a Sadia pretendia fazer uma oferta de compra da Perdigão, a informação vazou alguns dias antes, e teve pessoas que entraram apostando que as ações da Perdigão subiriam no mínimo até alcançar o valor médio de oferta que a Sadia faria, porém não contavam com a possibilidade de a Perdigão simplesmente recusar a proposta. E alguns anos depois, a Sadia quase faliu e a Perdigão é que acabou comprando a Sadia. Há vários outros casos nos quais as informações privilegiadas não produzem o efeito esperado, ou simplesmente estão incorretas, inclusive porque alguns empresários e altos executivos, quando suspeitam que estão sendo "espionados" por um insider, eles podem vazar intencionalmente informações falsas para "punir" os insiders e os investidores usuários destas informações, além de eles próprios poderem ganhar em cima deles. Portanto é um erro ingênuo acreditar que informação privilegiada seja uma forma segura de ganhar. Não é segura nem estrategicamente e muito menos juridicamente.

Quando nos vemos diante de escolhas difíceis, em geral, recorremos a regras práticas de atalhos ou ao puro instinto. E ficamos muito influenciados pelos atos alheios. A combinação da teoria econômica com o realismo da psicologia produziu a “economia comportamental”. Muitos fenômenos econômicos envolvem interdependências – o que você faz afeta o meu bem estar, e vice-versa -, fato que muitas teorias econômicas parecem não levar em conta da forma como realmente ocorre. Na realidade há um percentual significativo de aleatoriedade e o sistema social e econômico é complexo onde nenhuma variável é responsável pela causa e efeito por si só e de forma linear. No livro, o leitor aprenderá como isto ocorre no Mercado Acionário e não sairá prejudicado pela psicologia da coletividade.

Para quem leu até aqui, é capaz de ler um pouco mais. Antes de decidir especular de forma ostensiva no mercado de renda variável, é importante lembrar de alguns provérbios atribuídos ao Sábio Rei Salomão, indicados a seguir:

“A sabedoria do sensato faz-lhe conhecer o caminho, mas a esperteza dos insensatos é ilusão.”

“Há caminhos que a alguns parecem retos, mas no fim conduzem à morte.”

“O ingênuo crê em qualquer palavra, mas o sagaz põe cuidado em seus passos”

“O Sábio é cauto e evita o mal, mas o insensato é impetuoso e confiante.”

“O homem paciente é rico em prudência, mas o impulsivo aumenta o desatino”

“Mais vale o pouco do que um grande tesouro com grandes preocupações.”

“Quem presta atenção às experiências da vida frequenta o círculo dos sábios.”

“Os tolos escarnecem o sacrifício, mas entre os sensatos ele é bem aceito.”

“A arrogância precede a ruina, a altivez de espírito precede a queda, e a humildade precede a honra”.

“Mais vale ser modesto com os humildes do que repartir despojos com os soberbos.”

“Adquirir sabedoria vale mais do que ouro, e adquirir prudência é mais precioso do que a prata.”


O Livro  “A Psicologia dos Investimentos” não é um livro-texto de economia e nem de psicologia, mas convida o leitor a ir além do dinheiro, além das manchetes diárias do jornalismo econômico e a refletir profundamente sobre os próprios valores, o seu modo de analisar os seus investimentos e os de terceiros interessados.