COMPLICADO VS SIMPLES

Viés da complexidade: por que preferimos o complicado ao simples

Fonte: Internet: SUNO (10/12/2020), com adaptações

Sócrates disse: “a semelhança com a verdade não é verdade”; Jacob Bernoulli disse: “a hipótese de certeza é inferior à certeza.” Muitas vezes somos obrigados a enfrentar os riscos, tomar decisões, em meio às incertezas com que nos deparamos. Viver sem nenhuma ousadia equivale a quase não viver. O número de riscos contra os quais podemos nos segurar é bem inferior ao número de riscos que corremos no decorrer da vida. A posse de dinheiro acalma nossa inquietação face às incertezas/sinistros futuros. A medida de nossa inquietação é o parâmetro da recompensa que exigimos para nos desfazermos do dinheiro ou de correr o risco de perdê-lo. A relação entre a evidência e o evento considerado não é sempre mensurável. Nem sempre as alternativas para escolha são claras e as probabilidades mensuráveis. Na falta de informações, temos que recorrer ao raciocínio intuitivo para tentar acertar as chances. Em muitas situações os conceitos estatísticos costumam ser inúteis. Há também o risco de superestimar a quantidade de informação disponível, a ausência de filtros faz com que o indivíduo caia na cilada criada pelo próprio viés mental de rejeitar a simplicidade

“Um dos melhores jeitos de evitar problemas é manter as coisas simples” 

(Charles Munger)

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Teorema (20 x 80) de Wilfredo Pareto [1848-1923] usado no investimento com analogia de Warren Buffet: “Você só tem que fazer algumas coisas certas em sua vida, contanto que você não faça muitas coisas erradas"

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Infelizmente, o ser humano tem uma predisposição (um preconceito) de acreditar mais no pavão do que em uma simples galinha !

O viés de complexidade é uma falácia lógica que nos leva a dar crédito indevido a conceitos complexos. Apesar de parecer distante, é bastante comum. Diante de duas hipóteses concorrentes, é provável que as pessoas escolham a mais complexa ao invés da mais simples. Normalmente, essa é a opção em que há mais suposições, hipóteses e mais marketing envolvido. Como resultado desse pensamento, quando precisamos resolver um problema, ignoramos as soluções simples – concluindo “isso nunca vai funcionar” – e buscamos as complexas.

Outra consequência do viés da complexidade ocorre quando optamos por comprar algum produto ou serviço mais complexo porque vemos nele uma qualidade que os outros não têm. Os profissionais de marketing entendem muito de viés de complexidade. Eles o utilizam incorporando uma linguagem confusa ou detalhes insignificantes à embalagem dos produtos, visando a torná-los mais atrativos. A maioria das pessoas que compra tinta para o cabelo “sem amônia” ou um creme facial que “contém peptídeos” não compreende muito bem o que isso realmente significa. No entanto, por parecer mais completo e complexo – bem elaborado, com um nome científico –, também parece bom. Termos como esses geralmente significam muito pouco, mas nós os vemos e imaginamos que implicam um produto superior às alternativas encontradas. Quantos sabem o que realmente são os probióticos e como eles interagem com a flora intestinal? Mesmo assim, muitos iogurtes mostram essas especificações nas embalagens.

Quando analisamos esse viés sob a óptica do mercado financeiro, observamos que sua presença é constante. Muitos investidores, principalmente iniciantes, tendem a encontrar nos negócios complexos um investimento, acreditando que essa é a decisão acertada. Assim, desconsideram os negócios simples porque, supostamente, “todo mundo os conhece”. Essa decisão é tomada porque, muitas vezes, negócios complexos estão nas manchetes dos noticiários e nas redes sociais, ao passo que negócios simples acabam esquecidos. O noticiário mostra justamente os casos complexos, em que há escândalos de corrupção, problemas de governança corporativa, aumento da concorrência, problemas operacionais ou qualquer outra adversidade que envolva as empresas, para o bem ou para o mal.  A complexidade atrai muitos investidores. Negócios complicados atraem a atenção: fazem-nos querer pesquisar sobre eles, criar hipóteses e teses. Por outro lado, negócios simples são… simples. E, normalmente, o simples indica que eles não chamam tanta atenção – apesar de serem excelentes e rentáveis.

Muitos investem em empresas cujo próprio modo de auferir lucro é algo complexo, de difícil mensuração. Confúcio afirmou: “A vida é realmente simples; nós é que insistimos em torná-la complicada”. Ao optarmos por negócios complexos, ou análises complexas ao invés dos simples, corremos um risco relevante de amargar prejuízo, principalmente porque nem sabemos quais riscos estamos correndo. Como sintetizou o jornalista americano Andy Benoit, “a maioria dos gênios – especialmente aqueles que lideram outros – prospera não desconstruindo complexidades intrincadas, mas explorando simplicidades não reconhecidas”.

COMO E POR QUE SIMPLIFICAR A SEGURANÇA FINANCEIRA

Consultar dados, examinar informes de rendimentos, relatórios de balanços, avaliar a qualidade do gerenciamento  de ponta e fazer prognósticos econômicos, embora sejam importantes e representem um trabalho sério e extenso, estão longe de serem relevantes ou suficientes para o sucesso no mercado acionário. É preciso enxergar além disso e ter muita consciência das ilusões de validade e habilidade.  Os “experts” especialistas tentam ser (ou mostrarem ser)  “inteligentes” pensando fora da caixa e, para isso, gostam de mostrar conclusões baseadas em combinações complexas de variáveis. Todavia, a complexidade pode funcionar em um ou outro caso, mas na maioria das vezes reduz a eficácia do prognósticos, que pode ser até igual a de dardos lançados por um chipanzé. Por outro lado, em muitas coisas análises simples podem ser mais do que o suficiente. Some-se a isso o fato de que os humanos são incorrigivelmente inconsistentes em fazer julgamentos. A título de ilustração: Radiologistas experts que avaliaram raios-x de tórax como ‘normal e anormal’ se contradisseram em 20% das vezes quando viram a mesma imagem em ocasiões distintas.  A expertise faz com que a pessoa se torne superconfiante em suas intuições e acabem dando peso demais a suas impressões pessoais e peso de menos a outras fontes de informação, resultando em diminuição de validade de suas conclusões que prevalece de forma inconsciente. Em outras palavras, muitos acham que julgamentos  complexos e sutis resultam em melhores resultados que outros baseados em análises simples, todavia, não passa de um ledo engano.

A atenção com o conhecimento e às mudanças (sentido amplo) devem andar juntas e de forma permanente. Isso é fonte de muito estresse. A busca de conhecimento é fruto de auto coercibilidade, disciplina e persistência, e equivale ao “passo atrás” para saltar muito à frente. O ato de se questionar, muitas vezes, leva à condição de criar novas coisas com base em um novo entendimento. Para o aprendizado, também é necessário ter método e organização. Isso significa a necessidade de ter objetivos claros, abastecer-se de boas informações, crescer e desenvolver-se. Sem organização e método, fica-se navegando na aleatoriedade, sem foco, sem objetivo, sem entendimento real e profundo dos conteúdos. Aprenda, busque, submeta-se a novas informações e reflexões não porque o professor pediu, não porque o chefe espera, não porque seu marido ou esposa aguarda, mas porque você se dispõem a ser uma pessoa melhor profissionalmente, intelectualmente, socialmente, etc.. Lembre-se de que o que está pronto também já pode estar mais perto do desaparecimento, do processo de decomposição, da morte. Um exemplo notório é a transformação forçada ocorrida com as empresas de telecomunicações em razão do desenvolvimento tecnológico. Considere que todo saber é um degrau de subida para o permanente e necessário desenvolvimento pessoal e não um ponto de chegada. Afinal, sabe-se muito mais sobre o que está acontecendo no presente do que se poderia saber sobre o que acontecerá em alguma data incerta no futuro. Todavia, para ser um investidor de longo prazo, não se pode deixar dominar por condições transitórias como se fossem permanentes. Tudo na vida está sujeito à mudança, tudo varia, nada é estático, há tendências que sempre pareceram fazer total sentido e subitamente não mais o fazem, é preciso enxergar o resultado final em meio às tempestades transitórias. É preciso ter o conhecimento adequado para este objetivo a fim de poder identificar as consequências passageiras ou não das tempestades. Preocupe-se com a capacidade de aprendizado: dinamismo, criatividade, capacidade de questionar, protagonismo em sua vida, resiliência, adaptabilidade às mudanças, capacidade de aprender com as ameaças, porque – no mínimo – todos são (e necessitam ser) empreendedores da própria vida. A mudança de tudo é uma constante, desde fatos simples até eras de mudanças e mudanças de eras.  Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Quem não observa as mudanças de sua época, quem permanece imutável, indiferente a relevantes  mudanças, poderá terminar  até destruído por ela. Há mais de 2000 anos Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático considerado o “pai da dialética”, já dizia: tudo é mudança. O escritor e futurista norte-americano Alvin Toffler, autor dos livros “Choque do Futuro” e “A Terceira Onda” observou: O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender (hábitos, formas de produzir, modelos e paradigmas obsoletos, etc) e reaprender. Galileu Galilei dizia: “não existe nada pronto e perfeito, e sim adaptações, mutações e transformações do conhecimento”. Aprender sempre foi um desafio permanente na vida  em todas as épocas da humanidade, ele sempre existirá na vida de todos de modo formal (estudo tradicional) ou informal com estímulos voluntários ou involuntários (sortes e principalmente os azares).  O mundo digital e as transformações da sociedade em razão desta aceleraram as mudanças no mercado de trabalho nos últimos 20 anos como nunca antes em séculos, criando novas e destruindo antigas oportunidades [uma das oportunidades a ser destruída pode ser a sua]. É preciso ter vontade/disposição/capacidade  de aprender em cada segundo e oportunidades ao longo de toda a vida. Até o fim de 2022 cerca de 50% das habilidades profissionais que existem hoje serão transformadas, sendo substituídas por outras, deixando de ser necessárias ou sendo complementadas [ fonte: Fórum Econômico Mundial]. Mais de 1 bilhão de empregos no mundo serão completamente transformados ao longo da atual década [2020 a 2030 – fonte: fórum econômico mundial]. Em 2022, 133 milhões de novos empregos serão criados pela digitalização [fonte: Future of Jobs, World Economic Forum]. Até 2025, mais da metade do trabalho no mundo já será realizado por algoritmos e máquinas [fonte: Future of Jobs, World Economic Forum]. Trabalhadores precisarão aprender mais habilidades sócio-emocionais e habilidades tecnológicas para poder ocupar faixas salariais mais altas. No cenário pós-covid, a grande maioria das pessoas precisará se requalificar para novos trabalhos [fonte: Future of Work after Covid-19, McKinsey Global Institute]. Profissionais especializados com nível de pós-graduação ou MBA ganham em média 66% mais do que profissionais não especializados, uma diferença que tende a aumentar em favor de formações capazes de especializar um profissional [Fonte: FGV].

Os investidores focados no preço com base em estratégias de curto prazo, em geral, ignoram que os aumentos excessivos dos rendimentos, o otimismo na economia, são pontuais, passageiros, insustentáveis no longo prazo. O otimismo ilimitado acaba elevando o preço a níveis irreais. O Preço de hoje nada nos informa sobre o preço de amanhã. A evolução dos preços é tão imprevisível quando as variáveis que os afeta. Não há como saber as futuras informações produtoras de otimismo ou pessimismo, nem quando elas produzirão impacto no mercado. Apenas podemos esperar que a multidão super reaja a elas e que os preços cairão enquanto o medo dominar e subirão quando as circunstâncias justificarem uma visão esperançosa para o futuro. O preço em ambas as possibilidades tendem a retornar a um paralelo com os indicadores fundamentais: VPA, Histórico de proventos, Lucros, etc.  As empresas sólidas há muitos anos no mercado de oligopólio não deixam as coisas desfavoráveis indefinidamente e conseguem se adequar às permanentes mudanças da realidade. Ao comprar ações de boas pagadoras de proventos, reduz-se o risco de perda substancial no longo prazo. É um enorme erro basear-se na maioria porque é um  enorme erro tratar de forma igual pessoas diferentes (e todos são diferentes). Respeito e educação é denominador comum, mas as ambições, a experiência na vida, o entendimento dos fatos, a competência, a confiança em si, as possibilidades as motivações e o querer  são únicos em cada um. O desenvolvimento de um país depende do desenvolvimento de cada um de seu povo e isto depende da motivação individual. Motivar não é animar alguém. Motivador não é um animador de plateia, um bobo da corte, um contador de piadas e de amenidades para extrair risadas da plateia. Motivação significa ato de criar uma razão (um motivo) para algo, motivador o agente que motiva alguém para algo além do senso comum que induz a todos a não agir e garantir o que já possui, ainda que pouco.  Motivar é fazer crer que desejo sem ação é ilusão, portanto, é criar coragem para agir. Os cemitérios estão cheios ‘esquerdistas’ com  visões e ideias que não foram realizadas por falta de coragem. As competências representam as habilidades, aptidões e as capacidades em geral que cada indivíduo possui. Existe uma grande gama de competências, desde conhecimentos teóricos específicos, tecnológicos, culturais, etc.. que agregam possibilidades de resolução de problemas. Elas não são estáticas e devem permanentemente ser aperfeiçoadas para manterem-se em constante progresso.  Tudo isso e muitas outras coisas mais fazem com que o melhor dinheiro [o mais seguro] para ser viver não é o do seu bolso no hoje, não é o do seu sócio, não é do investidor, não é o do seu pai, e muito menos o de empréstimos, mas sim o de eternos clientes, é o dinheiro de  fontes de receitas captado de diversas fontes de vendas de produtos e serviços estimados serem a mais duradouras possível. E você pode tê-lo também por meio de distribuição de proventos  das companhias de capital aberto na bolsa de valores.  Assim, você ao longo da vida irá transferindo o estresse da sua vulnerabilidade da sua pequena única ou poucas fontes financeiras para várias  de grandes e sólidas empresas.