A ESTRATÉGIA DA SIMPLIFICAÇÃO

A DIVERSIFICAÇÃO, O CUSTO DE OPORTUNIDADE E A SIMPLIFICAÇÃO COMO AS MELHORES FERRAMENTAS PARA AUXILIAR O INVESTIDOR.

A definição de risco aparece com vários disfarces. A questão central para racionalizá-lo da melhor forma é considerá-la em relação a um referencial ou critério básico essencial. Suponha que um investidor acredite poder adivinhar o momento certo de comprar antes de subir, e vender antes de cair com análise técnica em gráficos, no qual acredita representar informações do passado, presente e futuro. Com que margem de erro ele estaria operando? Seria esta capaz de superar a estratégia simples de comprar e manter?  A medição de risco fica ainda mais  complicada quando os parâmetros são fluidos, e não estacionários. A própria volatilidade não é constante no tempo. E não se pode subestimar a frequência com que os seres humanos se afastam do caminho estrito e apertado da racionalidade. Um volume crescente de pesquisas revela que as pessoas são frequentes vitimas de incoerências, falta de visão e outras formas de distorção no processo de tomadas de decisão. A conduta humana oscila entre o “consumado idiota” e o “autômato hiper-racional”. Os fracassos da racionalidade comumente ocorrem de forma insuspeitada. Para lidar com isso, a filosofia tem papel mais relevante do que a matemática. 

Charlie Munger, sócio do bilionário Warren Buffet, disse: "Nossas ideias são tão simples que as pessoas continuam nos perguntando sobre mistérios quando tudo o que temos são as ideias mais elementares."  A lição é: mantenha as coisas o mais simples possível. Não quero dizer aqui que o simples seja sinônimo de "o mais fácil". Ao simplificar você elimina o barulho/ruído e fica com o som puro. Investir no mercado de renda variável é simples e fácil somente  para quem tem o conhecimento correto agregado à experiência correta e um elevado grau de bom senso. Quem sabe também sabe a quem deve ouvir e ao que considerar do que ouve. Sabe discernir fontes e opiniões confiáveis e atuantes com o próprio dinheiro no mercado. Não é levado por meras palavras. É cético como um cientista e raramente cai na conversa de promessas falsas. Outro aspecto importante é a capacidade cognitiva do investidorÉ preciso claridade de pensamento para olhar sobre o vasto e móvel panorama das inúmeras complexas variáveis pertinentes aos mercado de renda variável e à vida, para reduzir as consequências de enxergar tudo apenas como um caos fortuito ou a imagem projetada de seus próprios sonhos, desejos, preconceitos e temores. Isto vale tanto ou mais que um bom conhecimento técnico, em muitas vezes exagerar no foco técnico pode representar a receita para o fracasso, a exemplo da relação dos "day traders" com as análises técnicas. Em razão do ser humano preocupar-se muito mais em como as coisas parecem ser do que realmente são, ele é facilmente enganado pelas aparências. Daí o ditado: "As pessoas acreditam mais no pavão do que no galo". Muitos investidores e analistas tentam complicar demais o processo de investimento no mercado de renda variável, vendendo um galo muito enfeitado. O pior é que isto às vezes produz resultados, mas não significa que seja útil ou necessário para o sucesso.  

Para ter sucesso no mercado de renda variável não é possível guiar-se somente pela matemática e estatística. É uma forma errada de simplificação. A simples observação repetida de eventos similares no passado é uma desculpa insatisfatória para acreditar na probabilidade de ocorrerem no futuro. Para ter sucesso no mercado de renda variável não é possível guiar-se somente pela matemática e estatística. A vida gira em torno da incerteza que não pode ser inteiramente dominada pelas ciências exatas. A ausência de um método claro de previsibilidade e o fato de existirem decisões de consequências irreversíveis fazem surgir o aumento da sensação de risco e incerteza. No centro da incerteza está a natureza prospectiva do ser humano; como tudo está constantemente mudando, muitos dados são pertinentes ao seu próprio período de tempo e, consequentemente, fornecem apenas uma base frágil para generalizações e previsões futuras. O que foi 75% provável ontem terá probabilidades desconhecidas amanhã. Em razão disso, os preços são peculiarmente vulneráveis a surpresas e inerentemente voláteis. Não se deve acreditar ser possível operar com a hipótese de poder unificar o passado, o presente e o futuro em um gráfico. As decisões uma vez tomadas criam um novo ambiente e, muitas vezes, sem a oportunidade de repetir o antigo. A incerteza, e não a probabilidade matemática, é o paradigma dominante do mundo real. Para melhor investir no mercado acionário é preciso evitar perturbações desnecessárias.  As pessoas não precisam se perturbar tanto para investir no mercado acionário. A percepção da probabilidade e do risco dependem também do julgamento intuitivo que, por sua vez, depende do grau das crenças acumuladas pela experiência pessoal de cada observador. É preciso e muito possível investir mesmo considerando não ter domínio sobre o futuro. Não se pode ficar prisioneiro de um futuro inevitável e incerto. Não se pode querer entendê-lo por completo apenas com as leis da matemática. Um mundo bem ordenado em que o futuro se submete à análise matemática cuidadosa não passa de mera ilusão, de dissociação cognitiva. Nos investimentos, o mundo da pura probabilidade só existe na teoria ou como uma descrição parcial dos fatos. Na maioria das vezes pouco tem a ver com os fatos resultantes das interações dos interesses de milhares de humanos lutando para livrar-se das trevas da realidade. O lado bom disso é poder acreditar que as próprias decisões tomadas com a própria experiência também importam muito, ainda sabendo que se essas serão as melhores ou piores só o futuro dirá.

Evitar a imbecilidade coletiva que desconsidera tudo que não seja confirmado pelo testemunho unânime da “inteligência” coletiva; qualquer coisa fora dela simplesmente não existe. Muitos dizem “amém” à opinião grupal por medo da solidão. Compreende-se assim porque o mercado acionário é descrito de várias formas diferentes, a exemplo dos DayTraders e os “By and Hold”, extremos opostos.   Cuidado com os operadores-de-botequim onde todos se sentem “experts” para indicar o caminho que nunca tiveram coragem de fazer por conta própria com o próprio dinheiro. A humanidade sempre preferiu mentiras agradáveis a ter que conviver com verdades por vezes dolorosas, mas que podem levar à introspecção e ao verdadeiro conhecimento. Isto explica ao abandono (pouca importância) ou substituição do lema platônico – a cada um de acordo com sua natureza e ações – por outro mais agradável – a cada um segundo suas necessidades. Enquanto o primeiro inclui necessariamente algum esforço, o segundo acena com um estado de coisas paradisíaco ou nirvânico onde todos terão suas necessidades atendidas, tal como também é vendido o paraíso cristão.

Todo investidor com foco no longo prazo e na renda passiva com proventos já comprou uma ação que achou ser um bom negócio, mas após algum tempo mostrou-se muito diferente do que gostaria que fosse. Isso sempre aconteceu e acontecerá com todos os investidores muito experientes ou não.  Caso ainda não tenha acontecido com você, é apenas uma questão de tempo. Mas, calma, o valor dos preços dos ativos no mercado de renda variável não é sempre simétrico. Há estratégias para reduzir este custo. Ademais, nem sempre que o preço do ativo cai muito, os lucros da empresa e a distribuição dos proventos caem na mesma proporção e, às vezes, nem a atividade econômica da empresa foi afetada pelos fatores que geraram o pânico no mercado.  

Entre 2020 e 2021, o mercado financeiro ficou mais volátil principalmente por conta da pandemia. No Brasil, além dos problemas gerados pela pandemia as tensões políticas contribuíram muito para volatilidade dos preços dos ativos no mercado de ações. O fator político tende a piorar em ano de eleição presidencial. No Brasil, sempre houve muita incerteza por conta disso e o mercado não vai dar trégua. Mas o que o investidor deve fazer diante disso? O investidor sabe que não tem como prever o quanto poderá piorar ou melhorar e o momento do ponto de queda máxima dos preços. O preço mais alto só é conhecido após a queda; O preço mais baixo só é conhecido após a alta. Os movimentos do preço são absolutamente imprevisíveis. A única opção para atravessar esse cenário turbulento é possuir um portfolio de ativos de empresas sólidas inseridas em mercados de produtos e serviços indispensáveis, de pouca concorrência e poucos bens substitutos aos seus produtos, que podem sofrer alguma influência de recessão econômica, mas não serão destruídas por ela e quando o fator externo negativo a elas passar elas retornarão aos níveis anteriores de lucratividade e “pay out” de proventos. É preciso planejar com a premissa de que o fator negativo é temporário e não eterno. É este o ponto chave psicológico do sucesso, não se pode perpetuar cenários passageiros, nem otimistas, nem pessimistas. Nem tudo é tão bom ou tão ruim quanto se pensa. Apenas com essa firme convicção é possível passar por recorrentes turbulências com o foco no longo prazo com tranquilidade. As oscilações negativas serão inevitáveis, mas permanecendo seguro em uma perspectiva de longo prazo, ainda aproveitará as baixas de preços para comprar mais, reduzir o custo médio e aumentar o dividend yield. Se o investidor souber onde está se metendo, ele conseguirá aproveitar descontos e não se preocupará tanto com as quedas. 

A estratégia é simples: saber  em que atividade econômica investir e quando o preço do ativo está barato, mesmo sabendo que eventualmente ainda poderá ficar mais barato.  Os operadores subvalorizam os preços das ações de empresas em dificuldades de curto prazo e supervalorizam ações de empresas com informações recentes de melhora acentuada, exemplo notório: pagar caro por ações de startups, e I.P.O, de modo geral. O aspecto emocional parece fazê-los agir como se as coisas melhorassem indefinidamente, de forma constante e linear. A escolha da atividade econômica é simples: todas as empresas que vendem algo que as pessoas simplesmente não podem ficar sem ou se recusam a ficar sem. Quando se está vendendo algo que as pessoas insistem ou necessitam comprar, é mais difícil perder, e não importa tanto o que aconteça. Então esse é o meu segredo: só invisto  em empresas que fornecem coisas que as pessoas necessitam absolutamente ou a desejam ardentemente, não são consumo de modas ou de mercado inserido em grande concorrência. Essas empresas desfrutam da extrema vantagem da demanda constante,  literalmente, nunca param. Por exemplo, ninguém pode ficar  sem água ou eletricidade. É uma questão de vida ou morte. Basta reinvestir seus dividendos para ver sua quantidade de ações aumentar e, por consequência, receber dividendos cada vez maiores. Não há sensação melhor do que receber o dinheiro investido de volta em dividendos todos os anos.

A dor da perda de dinheiro é uma sensação da qual todos tentam fugir e a volatilidade dos preços se referem muito mais a expectativas pessimistas e otimistas do que a realidade. Crenças geralmente são criadas apartadas de fatos reais, geralmente são utopias ou distopias. Muitos não vivem seus objetivos em razão de seus medos e a dor da perda de dinheiro é uma sensação da qual todos desejam fugir. Mudar os pensamentos mudam a forma como o mundo é visto. A dor também traz aprendizado, mas poucos são os que aprendem com ela ou com os erros e acertos de outros. O primeiro passo para solucionar um problema é entender o porquê dele existir e, em seguida, entender como pode ser superado.

No investimento no mercado de renda variável, todos estão suscetíveis a escolher ativo ótimo em um determinado momento, mas que fique ruim no futuro, a exemplo do ocorrido com as ações ETER3 da empresa ETERNIT, após 19 anos com fluxo de caixa positivo e pagando bons proventos que chegavam a 18% de D.Y anual. Não há previsão para isso, sobretudo quando esta se referir a longo período de tempo. A previsibilidade é inversamente proporcional ao intervalo temporal. De tudo o mais certo é que para que possa haver a possibilidade de ganho, resultados melhores, é preciso fazer algo mesmo que exista alguma possibilidade de perda, e é isso que torna importante a existência de uma correta estratégia que conjugue da melhor forma possível as probabilidades dos ganhos e das perdas e suas respectivas consequências.  Investir é preocupar-se com o futuro que, por sua vez, é insondável, é apenas um conjunto de possibilidades. De qualquer modo, é preciso pensar tanto de forma otimista quanto sobre o que acontecerá caso o futuro não se desenrole da maneira esperada. As previsões do futuro são sempre em termos probabilísticos e nunca haverá 100% de garantia para o futuro esperado. 

O investidor prudente não desfrutará do ponto máximo das altas, porém evitará grandes perdas no pontos mínimos das baixas. É como se preferisse a defesa ao ataque.  Não há como ser agressivo e defensivo simultaneamente no investimento no mercado de renda variável. A estratégia de evitar grandes perdas é mais segura e confiável do que a focada exclusivamente em acumular grandes ganhos. As palavras-chave são prudência e equilíbrio e afastar-se da ganância. A decisão do caminho a seguir deve ser baseado de forma consciente e inteligente pavimentado pelo conhecimento e a própria experiência. Muitos de jogam para fora do mercado acionário porque erram muito em busca da “tacada perfeita”. Focam em ganhar muito sem preocupar-se em conseguir sobreviver a algum erro de cálculo, golpe de má sorte, improvável, insondável, inevitável revés, tal como o efeito produzido em 2022 pela guerra entre Rússia e ucrânia.  Operar em busca da “tacada perfeita” equivale a andar na corda bamba sem rede de proteção. Não obstante a recompensa pelo êxito pode ser alta e trazer muito reconhecimento e admiração, o descuido e o revés podem ser fatais.

Na vida tudo é dualístico, para toda escolha há várias renúncias, para todo ponto há um ou mais contrapontos. Investir defensivamente significa deixar passar oportunidades de expectativa de ganhos elevados em troca da possibilidade de se fracassar menos. É melhor investir com medo do que com imprudência. Focar em evitar grandes perdas é melhor que só focar em grandes ganhos. É preciso ser precavido. Boas escolhas podem ser sucedidas por má sorte. Normalmente, a ganância é feita de sonhos que não costumam se tornar realidades. Por isso é importante agir com margem de segurança, e há algumas coisas que são indispensáveis saber

(1) Mais do que grandes retornos, o importante é ser à prova de falências. Quanto mais idoso eu fico, mais acredito que sucesso financeiro é a materialização da riqueza em uma sobrevivência digna com segurança financeira. Um plano, financeiro ou não, só é útil se for capaz de sobreviver à realidade no longo prazo, e um futuro repleto de incógnitas é a realidade para todos. Um plano realista não foge da verdade e dá margem para erros. Muitos planos fracassam, na maioria das vezes, não porque estavam errados e sim porque a certeza precisava de que determinadas circunstâncias permanecessem presentes ao longo do tempo. Pense em todas as coisas que aconteceram nas últimas duas décadas que ninguém foi capaz de prever: Onze de setembro, bolha imobiliária, covid-19, guerras, apenas para citar poucos notórios casos. Um bom planejamento financeiro se manifesta de diversas formas: um gasto frugal, pensamento flexível, desejos controlados, qualquer coisa a mais que permita ter êxito e evite a ruína permanente diante das inúmeras adversidades imprevisíveis. O “risco” da variância da distribuição de proventos e do valor monetário do capital investido é atenuado com a diversificação de ativos e comprando-os a valor “barato” em relação aos indicadores fundamentais da empresa em determinado tempo. Outro aspecto relevante é considerar o resultado computando o valor nominal do investimento com os proventos ganhos e suas reaplicações em mais ativos a preços abaixo do preço médio em um determinado tempo. A observação não pode ser estreita. 

(2) A DIVERSIFICAÇÃO: A estratégia da diversificação do investidor experiente não é baseada em insegurança emocional por temer consequências da própria decisão.  Ver as coisas apenas com as cores preto e branco é mais fácil do que prestar atenção em nuances de diversas cores. Muitos associam bons tempos ao fim de tempos ruins e pensam que ficar rico é igual a permanecer rico; que ser muito rico é sinônimo de invencibilidade, até o dia em que perdem tudo! O sucesso, seja o que este for, também tem sua face má que cobra seu preço, em todos os lugares, para todas as pessoas. A diversificação contribui para amenizar o efeito da volatilidade do valor nominal global investido, o risco de perda de rendimentos em razão de redução de pagamento de proventos e eventual quebra definitiva de uma companhia. O movimento assíncrono da evolução dos preços refreia os efeitos da volatilidade dos ativos da carteira. A melhor arma contra a variância dos retornos e do valor nominal do capital total investido é a diversificação na carteira. Sempre haverá desapontamentos com retornos esperados e outros que excederão as expectativas. A volatilidade só representa risco quando ligada a uma consequência. Para um investidor que precisará sacar o capital amanhã o risco de precisar vender com preço abaixo do que pagou não é o mesmo de outro que comprou com foco na renda passiva no longo prazo, e não tem dúvida de que o que caiu voltará a subir. A tecnologia da internet tornou possível estender essa estratégia adicionando investimentos no mercado acionário de outros países, por exemplo: USA, e com decisões de compra e venda de forma direta  pelo investidor, com o mínimo de intermediário possível. A diversificação equivale a um truque para lidar com o fracasso de modo que quando este aparecer não tire você de campo, de modo a poder continuar jogando até que os números voltem a estar a seu favor. O preço dos ativos depende do que outros investidores estarão dispostos a pagar em um certo ponto do futuro incerto, e outras inúmeras variáveis conhecidas e desconhecidas, e que ninguém consegue controlar. O melhor a fazer se resume em comprar ativos de bons negócios perenes a preços baratos em um certo momento.

(3) comprar o ativo PAGANDO PREÇO INFERIOR ao que de fato deveria valer: O preço dos ativos depende do que outros investidores estarão dispostos a pagar em um certo ponto do futuro incerto, e outras inúmeras variáveis conhecidas e desconhecidas, e que ninguém consegue controlar. O melhor a fazer se resume em comprar ativos de bons negócios perenes a preços 'baratos' em um certo momento. O preço baixo é o ponto mais importante da estratégia defensiva. Por óbvio este deve associar-se a índices de P/L baixo, L/Ação alto, e D.Y alto. O mercado é irracional e em momentos de crises, real ou imaginária, quedas sistemáticas acontecem e aparecem boas oportunidades de compras de ativos abaixo do valor patrimonial. A ação é um objeto tangível que está associado a uma empresa inserida em uma atividade econômica cujo patrimônio tangível tem um valor intrínseco capaz de ser avaliado. Comprar ativos de empresas sólidas e boas pagadoras de dividendos a um preço baixo é o melhor negócio que se pode fazer no mercado de renda variável. Todavia, não basta comprar bons ativos, é preciso comprar bem os bons ativos. Este detalhe é relevante sobretudo para os especuladores cujo objetivo é lucro pela diferença de preços. Só se vende bem o que se compra bem. Porém, ainda que os pontos favoráveis sejam  verdadeiros, se o preço pago pelos ativos for muito alto em algum momento a realidade fundamental acabará prevalecendo. Nas bolhas, o atraente se torna “atraente a qualquer preço”. Na direção oposta, comprar abaixo do valor não é infalível, mas é a melhor chance que existe, é o melhor a fazer.

(4) SABER O QUE ESTÁ COMPRANDO:  Dificilmente haverá algo na vida só com vantagens, mas é possível atingir a meta adquirindo ativos de empresas que proporcionem renda mesmo em tempo de crise, momento em que a insegurança e a instabilidade se instalam, que a inflação aumenta, que o crédito fica muito caro [juros alto]. Em momentos de crise, a lógica é pensar que os lucros diminuirão e as empresas postergarão o pagamento de proventos. Todavia, existem empresas inseridas em setores perenes cujos serviços e produtos não podem ter o consumo postergados pelos seus consumidores, são exemplos clássicos: setor de saneamento e água, bancos, energia elétrica, internet, gás, combustíveis. Em suma, há empresas inseridas em setores cujos serviços e produtos contam com uma demanda pouco elástica em relação a fatores econômicos desfavoráveis: queda de renda, juros e inflação elevados. As pessoas simplesmente não podem interromper (consumo compulsório) ou até reduzir (consumo muito necessário) ou por ser muito desejado, (ex. bebidas alcoólicas). Com cenário ruim ou bom, perspectiva ruim ou boa, elas continuarão lucrando. A solidez operacional e financeira desses tipos de empresas oferece mais tolerância à volatilidade dos preços de suas ações porque quando estes caem a permanência dos dividendos faz com que o dividend yield aumente e contribua para o retorno da elevação do preço das ações. Ainda que o preço caia, os ganhos com proventos continuam e a aquisição de mais ativos com os próprios proventos possibilita a redução do custo médio do ativo específico e global da carteira.

Ótimas empresas também tem o valor de seus ativos com preço subavaliado em tempos de crises. Empresas com histórico de já terem passado por diversas crises e que embora envergaram, não quebraram. É muito mais relevante e seguro basear-se nisso do que na situação de um Balanço Patrimonial em um dado momento. É preciso evitar os extremos de empresas com elevada estimada durabilidade e resiliência a ‘crises” e, portanto, segurança, mas com baixa taxa de retorno em razão de preços de seus títulos elevados em relação aos proventos distribuídos, e o exato oposto equivalendo a propostas arriscadas.  O essencial é manter o essencial como essencial.

CUSTO DE OPORTUNIDADE: O raciocínio para o custo de oportunidade de comprar a ação A ou a B pode ser simplificado/ilustrado pelo seguinte comentário: "O custo de oportunidade é um grande filtro na vida. Se uma mulher tem dois pretendentes realmente ansiosos para tê-la e um é muito melhor do que o outro, Ela  não precisa gastar muito tempo pensando no outro. Forma simples de filtrar as oportunidades de compra."  Comumente, o que é oportunidade para o especulador de preços, não é para o investidor de longo prazo focado em acumular bons ativos pagadores de proventos. O objetivo vai além de encontrar bons ativos, é preciso associá-los a compras a bom preço. Não se trata apenas do que se compra, mas também do quanto se paga. Um ativo de alta qualidade pode, em uma dado momento, ser uma compra boa ou ruim. A falha em distinguir bons ativos e boas compras  dos seus opostos coloca a maioria dos ‘investidores’ em apuros. O mercado não é racional e os preços não decorrem necessariamente como resultado de um processo analítico, é importante pensar sobre as forças psicológicas por trás dele. As pechinchas, em geral, fundamentam-se na irracionalidade e ou em alguma compreensão objetiva incompleta [equivocada]. As coisas tendem a ser mais baratas quando a baixa qualidade dos ativos afasta o interesse, porém, esta associação de preço baixo e qualidade ruim nem sempre é a regra, e é forte o preconceito de que isto está presente em 100% dos casos. O investidor experiente  identifica as melhores oportunidades [valor e preço] por si mesmo.  A título de ilustração: Imagine que você está em meados de 2011 e com 80 mil reais no bolso. Preocupado com seu futuro, você sabiamente optou por montar uma carteira de ações com esse recurso excedente. Tomou a decisão de comprar 8 ações de diferentes subsetores, com bons fundamentos e preços atrativos, destinando 10 mil reais para cada ação. De forma criteriosa, você construiu sua carteira baseada nos seguintes parâmetros: 

Ficando assim:

De fato, uma belíssima carteira em 2011, mas, em fevereiro de 2021 com elas estavam? 

Perceba que as ações do Banco Pine (PINE4) caíram 68 por cento no período. Uma grande queda. Mas quais serão os reais efeitos dessa queda na carteira?

Lembre-se que você investiu 80 mil reais em 2011, dividindo em 10 mil reais em cada ação selecionada.  Bom, você teria acumulado mais de 336 mil reais, mesmo em uma carteira em que uma ação tenha desempenhado quase 70 por cento negativamente. Um excelente resultado. Se você tivesse investido os mesmos recursos em renda fixa teria cerca de 190 mil reais. A falha de um ativo é diluída em meios aos demais no mesmo tempo. A evolução assimétrica dos preços dos ativos permitiu que você ganhasse muito mais do que até se tivesse perdido 100% de uma, e até mais de uma. Seus ganhos irão superar os prejuízos inesperados e insondáveis do futuro. Você e eu iremos errar e ficará tudo bem.

Igual raciocínio simplificado pode e deve ser feito em relação aos dividendos para o foco na renda passiva. Alguns operadores focam em valorização da ação visando ao crescimento de capital. Outros procuram empresas perenes e consolidadas, que possam gerar um retorno sobre capital, ainda que modesto, mas de forma menos volátil e com maior expectativa de ‘segurança’.  Basicamente, nessa estratégia, o investidor deve sempre buscar empresas que pagam bons dividendos. Um bom indicador para viabilizar se a empresa paga bons proventos é o Dividend Yield (DY). Na teoria, quanto maior for esse índice, mais proventos a empresa paga aos seus acionistas. Porém, há um problema. Não basta apenas ver esse indicador em um dado momento, é imprescindível verificar se a empresa mantém esse índice alto com uma boa frequência. O DY tem a desvantagem de olhar o resultado pelo retrovisor, não pelo para-brisa. As empresas podem pagar dividendos altos em determinados períodos, mas que podem não ser não-recorrentes. E claramente, para quem busca uma renda passiva, esse não é o intuito. É preciso investir em  empresas que tenham esse pagamento constante. Vou dar um exemploSondotecnica [sond5] é uma empresa listada na b3 desde meados de 2000, com uma liquidez baixíssima e que em 2021 estava relacionada a um DY de 24 por cento ao ano.  Lindo!  Só que na maioria do tempo nunca pagou nada e recentemente passou a pagar valores bem altos. Talvez em razão do crescimento dos lucros e ações sem aumento de quantidade, passando assim a ratear relativamente mais lucros por menos ações. De fato, não importa saber ao certo o motivo, mas inferir que essa realidade poderá não ser recorrente. Como já dito, o foco na renda passiva deve estar associada à expectativa de receita frequente.

SOND5

Veja o exemplo seguinte. A Transmissão Paulista (TRPL4) é uma empresa do setor de Energia Elétrica, famosa por seus dividendos. Veja seu histórico:

Veja que por todo o período houve  pagamentos, alguns mais generosos que os outros, mas sem interrupção. Atualmente [ ref.2021], a empresa está com o DY de aproximadamente 14 por cento. Por isso busque sempre proventos altos, porém, constantes e em crescimento, observando sempre os históricos de pagamentos.

Warren Buffett cometeu alguns erros em sua longa jornada como investidor e isso não atrapalhou a construção de sua fortuna, estimada em mais de 120 bilhões de dólares.  Entenda a importância do longo prazo e tenha consciência de que você não será invencível em suas escolhas, assim sua vida como investidor será mais tranquila e racional. É preciso saber o que está fazendo para não ter medo e aceitar errar pequeno e assim poder acertar grande. O erro faz parte do dia-a-dia dos melhores investidores do mundo. Não há como ser diferente. É preciso saber aprender com os pequenos azares para ficar muito fortalecido com os grandes acertos. E não se esqueça da possibilidade de reaplicação dos dividendos ao longo do tempo.

Este texto foi adaptado (com inclusões e exclusões) do original obtido na Internet de autoria de Eduardo Voglino fornecido pela empresa Guiainvest (Porto Alegre/RS)