Na
tarde de segunda-feira, 19 de outubro de 1987, dia que se tornaria conhecido como “Segunda-Feira
Negra” de Wall Street, um interessado no Mercado Acionário foi até o bar Harry’s situado na praça Hanover próximo a
Wall Street. Nesse dia o Dow despencou 508 pontos, de 2.246,73 para 1.738,74, até
então a maior queda percentual da história – 22,6%. As vendas foram tão
intensas que os sistemas de negociação da Bolsa de Valores de Nova York
suspenderam as operações.
Para
a surpresa do interessado, o Harry’s estava lotado, e havia uma atmosfera de
carnaval. Operadores e corretores brindavam os jornalistas com detalhes da
queda; garçons de camisa branca passavam com bandejas de champanhe e uísque,
mulheres glamourosas, de origem incerta, estavam alí disponíveis.
O
interessado era um jovem repórter que
cobria Wall Street havia apenas dois meses. Aproximou-se de um dos foliões que
pareciam mais velhos e perguntou: o que diabos está acontecendo? Explicou o
homem: a maioria daquelas pessoas ganha comissão e com o pânico das vendas – o volume
de negócios atingiu níveis nunca vistos – eles tinham vivido um dos dias mais
compensadores de suas carreiras: corretores de valores mobiliários.
Este
fato ilustra o importante ensinamento de três lições do Mercado Acionário: (1) as coisas nem
sempre são o que parecem; (2) os interesses dos “intermediários” em geral divergem
dos interesses dos investidores comuns. (3) O benefício coletivo nem sempre
anda em paralelo com o individual.
Existem muitos argumentos para várias direções sobre investimentos,
é preciso estar alerta para o fato de quando se constrói sobre falsos
fundamentos, quanto mais se constrói maior será a ruína. Além disso, as razões
e resoluções dos que estudam e observam com igual diligência e durante igual
tempo podem ser muito discordantes. O talento mínimo que se exige de todo
aconselhado é o da capacidade de julgamento, de senso crítico. Embora seja
verdade que muitos olhos veem mais do que um, não deve isso ser considerado
aplicável à necessidade de um grande número de conselheiros em qualquer assunto
na vida. Muitos olhos veem a mesma coisa em diversos planos, e tendem a olhar
também para o seu interesse pessoal. Quem deseja não falhar o alvo, embora olhe
à volta com muitos olhos, quando decide deve fazê-lo sempre apenas com os seus
próprios. Em tudo na vida está presente a necessidade de interpretação. É
preciso saber transformar as razões das palavras de outros homens na sua
própria razão. É preciso estar vigilante com a própria ignorância e ousadia
para não cair na cilada do ganho fácil e seguir determinado para a direção
errada. Todos devem ter a obrigação de fazer todos os esforços para se
informarem de tudo que possa ter relação com suas importantes ações futuras.
A
realidade demonstra que grandes oscilações de preços das ações acontecem em
resposta a notícias que têm importante implicações nas expectativas do mercado para
os rendimentos das empresas, mas que nem sempre produzem resultados reais (lucros
ou prejuízos) em paralelo com as expectativas que produzem no imaginário da
coletividade de operadores nesse mercado. Quando a boiada sai apavorada em
disparada os preços desabam. Quando as expectativas não se confirmam, os preços
voltam a realidade e só quem ganhou foram os corretores, a Bolsa de Valores, o
Governo e o investidor inteligente que não vendeu e ainda comprou mais com
menos dinheiro.
Em
resposta a uma pesquisa após a recuperação que perguntou a operadores o que
mais lhe preocupou naquela fatídica data,
os operadores institucionais e privados puderam em primeiro lugar na
lista a notícia de que o índice Dow Jones tinha caído 200 pontos na abertura da
Bolsa; o segundo relato mais importante foi a notícia dos declínios da semana
anterior. Perguntou-se também se os fundamentos econômicos ou a psicologia do
operador tinha sido responsável pela queda e mais de 60% dos entrevistados
citaram a psicologia do investidor.
De
fato, as grandes quedas ou subidas dos preços das ações estão substancialmente relacionadas a uma rede de retroalimentação
psicológica entre os operadores em geral, com a queda de preço gerando ordens
de venda e a subida gerando ordens de compra, com efeito em cascata!
As
grandes quedas, comumente, nada tem a
ver com alguma coisa que não seja a da própria queda, associada a teorias sobre
as razões que levaram os operadores a vender e sobre a psicologia individual e
da coletividade.
John
Maynard Keynes, 1883 a 1946, em toda a
sua carreira aplicou as lições que aprendeu nos mercados financeiros às suas
teorizações sobre economia. A mais importante foi que o investimento e muitas
outras atividades econômicas têm como base informações limitadas e não
confiáveis. Keynes escreveu em seu livro Teoria Geral: “O fato notável é a
extrema precariedade da base de conhecimento na qual temos que fazer nossas
estimativas de possíveis lucros. Se falarmos francamente, devemos admitir que
nossa base de conhecimento para estimar os lucros daqui a dez anos de uma
ferrovia, uma mina de cobre, uma fábrica de tecidos, o valor da reputação de um
remédio, entre outras hipóteses, é muito pequena, ou, às vezes, nenhuma. Keynes
não estava falando dos períodos de turbulência e crise, quando se poderia
esperar que fosse difícil obter informações exatas; em sua opinião, um estado
de quase ignorância era o curso natural dos negócios.
Nesse
ambiente os investidores devem estar ciente de que toda situação pode mudar a
qualquer momento. A avaliação estabelecida como resultado da psicologia de
massa de um grande número de indivíduos sem o conhecimento real, adequado, está
sujeita a alterações violentas como resultado de uma súbita flutuação de
opinião, graças a fatores que na realidade não fazem muita importância para o
rendimento esperado (proventos) exceto pela queda do valor monetário do capital
investido. A maioria opera no mercado acionário sem fortes raízes de convicção
para mantê-lo firme nos momentos de tempestade. Desta forma, o mercado
acionário estará sempre sujeito a ondas de sentimentos otimistas e pessimistas,
que são irracionais e, ao mesmo tempo, legítimos por não haver base sólida para
um cálculo razoável.
As
companhias de seguro não conseguem prever a saúde futura de todas as pessoas a
quem vendem apólices de seguro de vida, mas podem dar a suas apólices preços
baseados em tabelas atuariais, que mostram a distribuição geral da mortalidade
humana com razoável exatidão. No Mercado Acionário, a evolução dos preços
passado não garante o futuro. Este não é apenas incerto no sentido estatístico,
ele também é incognoscível. Em razão disso, as decisões no Mercado Acionário
devem ser vistas como de natureza única, pessoal e intransferível porque são
tomadas em situações nas quais o conhecimento existente não oferece base
suficiente para uma expectativa puramente matemática calculada com exatidão. A
certeza – sobretudo da evolução dos
preços das ações - baseia-se apenas no que é apenas provável e isso ainda com
base na experiência individual.
No
ambiente incerto, as decisões com base em expectativas dominam. Em vez de botar
o dinheiro para render com base no que entendem o que sejam os fundamentos, a
maioria dos operadores concentra-se em prever mudanças nas bases convencionais
de avaliação um pouco antes do grande público, a fim de obter lucro rápido
saindo na frente. Desta forma, a maioria não se preocupa com o valor real de um
investimento tal como um investidor que compra para manter em carteira por
tempo indeterminado, mas com base em uma avaliação estimada que o mercado fará,
sob influência da psicologia de massa, no futuro.
Especular
na Bolsa de Valores é participar de uma “batalha de esperteza”, cujo principal
objetivo é “ser mais esperto que a multidão e passar a moeda podre para o outro
sujeito tido por otário. Na verdade, melhor especificando, o mais otário!
Imagine
ações com preços muito acima dos fundamentos da Companhia e com aumentos desproporcionais
ao aumento dos lucros em um determinado período de tempo, mas, mesmo assim,
sempre há muitos interessados em comprá-las. Acrescentando um toque de
especificidade por meio de uma metáfora de um concurso de beleza onde o
resultado esperado deve ser o mais “politicamente correto” com o esperado pelo
público. Os julgadores devem escolher os seis rostos mais bonitos entre cem
candidatas, ficando com o prêmio a escolha que mais se aproximar das preferências
médias de todo o público. Certamente, os julgadores não poderão escolher,
necessariamente, os rostos que eles próprios consideram bonitos, mas aqueles
que acham que irão agradar ao público. O princípio básico para o sucesso é:
guarde sua opinião e tente escolher o resultado com os quais outros concordam.
No Mercado Acionário, a especulação vai além de escolher aqueles que são de
fato os mais bonitos, quanto se pode
julgar, nem mesmo aqueles que a média genuinamente acha mais bonitos, mas a análise
e decisão deve ser usada para adivinhar o que a opinião média espera que seja a
opinião média.
O
investidor inteligente sabe que esse tipo de estratégia de investir com base na
psicologia de multidão pode até funcionar no curto prazo, mas, passado a
euforia do otimismo irracional, no longo prazo o verdadeiro valor há de
prevalecer, premiando os investidores que se concentram nos fundamentos mais
realistas.
Muitos
especuladores trabalham com dinheiro emprestado. Quando o mercado leva um tombo,
e invariavelmente ocorre de vez em quando, eles enfrentam a possibilidade de
pedidos de cobertura suplementar de quem lhes empresta ( Bancos e Corretoras).
Se não puderem conseguir o dinheiro para cumprir as exigências do credor, suas
posições são liquidadas. Some-se a isso, o estímulo da pressão da aprovação
social. O genuíno investidor inteligente de longo prazo, que evita modas e foca
no valor real, é mal visto pela maioria dos operadores especuladores ao seu
redor e vai de encontro aos interesses dos ganhos dos agentes financeiros
intermediários (corretoras), conforme já explicado. Se for bem sucedido, isso
apenas confirmará a sua excentricidade de não seguir a boiada e seu sucesso
será comentado ao som de clarinetes; Mas, se fracassar, não será tratado com
muita misericórdia, seu fracasso será divulgado ao som de trombetas! Os agentes
intermediários ( Bancos e Corretoras) não terão pena de quem tentar direcionar
a sua manada para caminho fora dos seus interesses.
A
racionalidade não é uma variável binária, ela existe em um gradiente contínuo.
Em um extremo está a ultrarracionalidade dos supercomputadores; no outro
extremo está o comportamento impensado. A maioria das pessoas ocupa o terreno
do meio onde as tomadas de decisões são baseadas em cuidadosas ponderações e
regras práticas, mas com informações limitadas e ondas de psicologia irracional
onde nossas personalidades racionais escolhem da melhor maneira possível,
calculando, quando possível, e, em geral, recorrendo ao capricho, ao sentimento
ou ao acaso. O tempo não corre para trás, o futuro é desconhecido e os
negócios, os investidores e os consumidores são levados a tomar decisões com
base no melhor palpite no presente sobre o que pode vir a acontecer. Às vezes
esses palpites se revelam precisos. Em geral, não.
Para
reflexão do leitor interessado em progredir, termino com uma frase atribuída ao
investidor Warren Buffet: “Eu seria um mendigo na rua se os mercados sempre
fossem perfeitamente eficientes”.
O
Mundo é imperfeito. O desafio está em encontrar o pulo do gato em meio a
imperfeição. O livro A Psicologia dos Investimentos o ajudará a encontrá-lo
para ser um investidor no Mercado Acionário.